Temporada: 2
Número de episódios: 9
[Livre de spoilers]
Com a chegada do outono, assistimos também ao regresso de uma das séries mais antecipadas deste ano. A antologia The Haunting of Bly Manor, criada por Mike Flanagan, surge como sucessora de The Haunting of Hill House e está disponível na sua totalidade desde esta manhã, na plataforma de streaming Netflix.
Confesso: cheguei bastante atrasada à festa, no que diz respeito a Hill House. Apesar de ser uma fã ávida de terror, a aclamada série evadiu o meu radar durante algum tempo e manteve-se nas minhas sugestões durante um período ainda mais alargado, até que, por fim, a vi pela primeira vez no início deste ano. Desde então que a primeira instalação de The Haunting se tornou na minha série favorita do género – e, sejamos honestos, numa das melhores séries que já vi.
Com a fasquia elevada pela sua antecessora, Bly Manor tinha em frente a árdua tarefa que é corresponder às expectativas criadas por Hill House. Sobre isso, tenho apenas a dizer que, se esperam que esta instalação seja uma cópia da primeira, a desilusão é inevitável. De facto, Bly Manor não é uma série de terror – não na mesma capacidade que Hill House, pelo menos. Nas palavras de Flanagan, este romance gótico é, sim, uma história de amor, mas também uma história de fantasmas. As duas andam de mãos dadas durante os nove episódios que compreendem a duração desta antologia, esbatendo as linhas entre o romance e a tragédia até que estes se tornam praticamente indissociáveis.
Tendo por base várias obras literárias de Henry James (nomeadamente, mas não só, The Turn of the Screw), esta nova temporada de The Haunting tem lugar numa antiga mansão numa zona rural de Inglaterra e acompanha Dani Clayton (Victoria Pedretti), uma jovem americana que é contratada por Henry Wingrave (Henry Thomas), um empresário de sucesso, para cuidar dos seus sobrinhos órfãos, Miles (Benjamin Even Ainsworth) e Flora (Amelie Bea Smith), após a morte da sua antiga ama (Tahirah Sharif). Os três não estão sozinhos na propriedade, onde vive ainda Hannah Grose (T’Nia Miller), a governanta, e na qual Owen (Rahul Kohli), o cozinheiro, e Jamie (Amelia Eve), a jardineira, passam grande parte do seu tempo. Mas Victoria e Henry não são os únicos atores de Hill House a regressar à série: Oliver Jackson-Cohen interpreta Peter Quint, um ajudante de Henry, enquanto Carla Gugino e Kate Siegel ocupam lugares inesperados.
Apesar de aceitar este novo trabalho como forma de escapar ao seu passado, Dani rapidamente aprende que a mansão Bly não é sem as suas muitas assombrações. Aquilo que parecia ser uma forma de escapismo rapidamente se torna num autêntico pesadelo inescapável quando Miles e Flora começam a agir de forma suspeita. Afinal, nada em Bly é aquilo que parece e são muitos os segredos a desvendar neste local onde morto não é sinónimo de desaparecido.
Assim, Bly Manor partilha com a sua antecessora tudo o que esta tem de melhor. Desde o seu talentoso elenco e complicadas e cativantes personagens, enaltecidos apenas pelas suas novas adições, à sua cinematografia repleta de detalhes e pistas visuais sobre aquilo que é a própria história. Por vezes, a banda sonora característica da sua antecessora pode ser ouvida – um detalhe que não me passou ao lado e que serve como subtil elo de ligação entre as duas instalações. Apesar de a sua cronologia ser um pouco mais difícil de acompanhar do que a de Hill House, estando dividida entre o tempo presente, flashbacks e memórias dos próprios personagens, a distinção entre estes momentos torna-se progressivamente mais fácil de acompanhar, sendo o conjunto de extrema importância para o próprio enredo. Por fim, Bly Manor consegue não ser tão aterradora quando Hill House, apesar de ter os seus vários jump-scares, estando o verdadeiro terror desta temporada contido, na sua maioria, nas personagens e suas circunstâncias.
Ainda que Hill House seja imbatível, tendo definido o gold standard para séries deste género, Bly Manor não lhe fica atrás. É uma série perfeitamente esplêndida, e o binge perfeito para esta altura do ano.
Melhor episódio:
Episódio 9 – The Beast in the Jungle – À semelhança daquilo que me aconteceu com Hill House, escolher o melhor episódio de Bly Manor não é uma decisão que tome de ânimo leve. Existem, nesta instalação, vários episódios que, por uma ou outra razão, se destacaram nos meus olhos, e existem ainda mais cenas que carregarei comigo para a vida. Ainda assim, é a season finale que guardo como sendo o melhor episódio. Na minha opinião, a qualidade de uma peça de entretenimento mede-se não só pelas suas características técnicas, mas especialmente por aquilo que nos faz sentir. Após um último episódio lavada em lágrimas, digo, sem hesitação, que The Beast in the Jungle é, para mim, o melhor episódio de Bly Manor e aquele que transmite mais intensivamente a grande mensagem desta temporada.
Personagem de destaque:
Dani Clayton – Apesar de esta decisão se ter mostrado mais difícil do que esperava, graças ao trabalho incrível por parte tanto dos escritores como do elenco, Dani é a personagem que mais me moveu, ao longo da temporada. Mais uma vez, a prestação de Victoria Pedretti leva-nos a torcer pela sua personagem – alguém que, apesar de atormentada pelas suas próprias assombrações, não hesita em colocar-se em perigo por aqueles de quem gosta.
Inês Salvado