[Contém spoilers]
How To Get Away With Murder chegou ao fim. Seis temporadas e 90 episódios depois dizemos o derradeiro adeus a uma série que teve um percurso incrível e que marcou todos os fãs pelo enredo, personagens e elenco espetacular que nos ofereceu. Nunca ninguém está verdadeiramente preparado para uma series finale e nunca nenhum fim agradará a todos – é uma missão impossível -, mas, pessoalmente, posso dizer que no geral teve um bom término, ainda que tenha faltado o atar de algumas pontas soltas.
A alma e o coração desta série é, sem qualquer espaço para dúvidas, Viola Davis e a sua interpretação de Annalise Keating. As duas complementam-se e trouxeram ao mundo das séries uma das personagens femininas mais poderosas e marcantes de sempre. Sem esta junção, HTGAWM provavelmente não teria metade do impacto que teve. Não são muitas as vezes que podemos dizer que uma série tem uma mulher como Annalise como protagonista – uma personagem bem construída, com várias camadas de personalidade e uma evolução de desenvolvimento ao longo das temporadas como não se costuma ver.
Apesar de todos os floreados, no fundo, a série girou em torno do crescimento de Annalise. Com o passar das temporadas vamos ficando a conhecer mais um lado desta mulher que já passou por tanto e que, durante muito tempo, tentou rodear tudo o que a assombrava. No que diz respeito a finalizar de forma bonita e bem conseguida o percurso desta personagem, o último episódio acertou em cheio. Tivemos até direito a um pequeno vislumbre do que foi a vida de Annalise depois de se defender de todos os assassinatos de que era acusada. Se num exercício, no início da 6.ª temporada, em que Annalise tem de imaginar o seu funeral, aquilo que vê é um pequeno número de pessoas de certa forma contentes com a sua morte, o que realmente acontece é o oposto. Um salão lotado com pessoas que de uma forma ou de outra ficaram marcados pela passagem de Annalise pelas suas vidas. Não podia ter um fim mais bonito.
Annalise Keating estava realmente morta, como percebemos pelo seu discurso ao júri. Como era de esperar essa sua faceta caiu – já tinha caído há muito, mas ela parecia agarrar-se a ela como uma boia salva-vidas -, e deu lugar ao seu verdadeiro eu: Anna Mae Harkness. Outro dos momentos altos do episódio! Agora que penso nisso, quase todos os momentos de relevo deste final prenderam-se com a protagonista. E ainda bem! Tive receio que Annalise rejeitasse mesmo Tegan e que a teoria de que o verdadeiro amor de AK é a advocacia se provasse correta. Contudo, ela percebeu que tinha à sua frente alguém que a aceitava inteiramente como ela é e que podia parar de fugir, com medo da rejeição.
E se neste aspeto a conclusão foi plena, noutros a perfeição não esteve tão perto. Fui a única a sentir que os fins de Connor, Oliver, Michaela e Laurel ficaram pelo caminho? É certo que os vimos mais velhos no funeral de Annalise, mas antes do salto temporal pareceu-me que ficaram algumas coisas por arrumar e explicar. Por exemplo, a questão de Connor ter sido escolhido para o inner circle de AK. Afinal de contas não havia nenhum motivo em especial? Foi porque mentiu sobre o suposto trabalho que fez para ajudar a fechar um centro de reconversão sexual? Estava tão convencida que ele era o filho de Bonnie… Teria feito muito sentido. E Laurel? Onde esteve este tempo todo? A mãe foi morta pelo pai? Assim, sem mais nem menos? A teoria de que Wes estava vivo e que foi Sandrine quem o ajudou também teria encaixado muito bem. O pai de Michaela de repente já não faz parte do cenário e as especulações sobre a sua relação com Annalise não deram em nada.
Para mim, o que realmente ficou aquém neste episódio final foi a forma apressada como deram por concluídas as histórias dos K4. Acho que a única cujo percurso ficou bem explícito foi o de Michaela, que alcançou aquilo que queria, mas sozinha, sem ninguém a seu lado. A questão de ter sido uma agente do FBI a matar Asher também foi atirada para o ar e quem quisesse que apanhasse. Gabriel não teve mesmo utilidade nenhuma. Nunca mais foi mencionado e não sofreu qualquer consequência por ter testemunhado o assassinato do vizinho do lado. Enfim, parece que apenas a protagonista teve direito a um fim decente. Ah, esperem, já me esquecia! Nate teve um final feliz. Que enjoo!
E, claro, os sidekicks, os companheiros de todas as desventuras: Bonnie e Frank. Tinha esperança que conhecessem um bocadinho de paz e felicidade, mas não estava destinado. Não podia estar destinado. Seria demasiado óbvio acabarem juntos e felizes para sempre. Acho que este acabou por ser o grande plot twist do episódio: Frank sacrificar-se por Annalise, matando Birkhead e sendo morto em retorno assim como Bonnie. Triste, mas poético. Em retrospetiva, adorei a forma como estes dois terminaram a sua passagem pela série.
E, por fim, a explicação daquele aparecimento de Wes – ou nem por isso. Quem apostou na teoria de que era Christopher no futuro, parabéns! A teoria era válida e fazia sentido, mas eu queria muito que Wes estivesse vivo (sim, eu gostava muito da personagem). Para aqueles que questionam a utilização do mesmo ator para interpretar o filho, bem, devo dizer que o que não falta por aí são filhos que são fotocópias dos pais (já viram a filha de Reese Witherspoon? Igual!), por isso não me fez confusão. Sabemos pela conversa de Christopher com a mãe que ela, aparentemente, não manteve contacto com o restante grupo, mas descobrimos igualmente, com o remate brilhante da cena final, que Laurel continuou próxima de Annalise e que esta foi uma mentora para o afilhado, levando-o a terminar a série da mesma forma como começou: how to get away with murder.
Assim terminamos esta jornada e assim chegam também ao fim estas reviews. Confesso que vou ter saudades de analisar os episódios a cada semana e de imaginar mil e um cenários que quase nunca se concretizaram. Espero que, desse lado, tenham gostado tanto como eu! Comentem o que acharam deste grande final e até à próxima!
Beatriz Caetano