Imaginem que estão no meio de um apocalipse zombie e de uma manifestação anti-marijuana a conversar com outra pessoa sobre vários temas, assuntos que provocam introspeção e com uma boa vertente filosófica. Aqui e ali lá vão acontecendo coisas como, por exemplo, um parto no meio da confusão. A mim este argumento surreal já me convenceu e tudo isto acontece num só um episódio.

A premissa em The Midnight Gospel é esta: Clancy, responsável por um podcast, viaja por vários universos para entrevistar seres de outros planetas, há por exemplo várias versões do planeta Terra, sendo que o primeiro episódio ocorre numa delas. A personagem tem um simulador que lhe permite criar um avatar com a sua consciência e utilizar este para gravar as tais conversas. O mais interessante é que uma simples conversa sobre alguma coisa tem mais do que um sentido e pode ter interpretações escondidas. Não será uma série do agrado de todos porque todo o episódio, e presumo que será assim nos restantes, é uma conversa entre duas personagens enquanto fogem do caos provocado pelo apocalipse zombie. É um contraste interessante a calma do diálogo entre os dois com a confusão que reina no cenário em que estão.

Através de uma pesquisa descobri que estas entrevistas são excertos de um podcast real chamado Duncan Trussel Family Hour. Da colaboração entre Duncan Trussel, o responsável pelo podcast e voz de Clancy, e Pendleton Ward, criador de Adventure Time, nasce esta aventura de sentidos. Outra questão interessante é ter estreado no dia 20 de abril, conhecido como Weed Day. Parece ter sido propositado e o tema da legalização de drogas até foi um dos assuntos principais do primeiro episódio. As cores do episódio também originam uma viagem “psicadélica”.

Senti que a série tem ingredientes de Adventure Time, Rick and Morty e Bojack Horseman combinando viagens por vários universos com problemas existenciais. Podemos esperar, pela amostra do primeiro episódio, imagens violentas, mesmo que animadas, e um texto adulto que recorre muitas vezes a vocabulário mais agressivo. É uma boa série para uma maratona visto serem episódios pequenos, mas merece que se respire, não é apenas entretenimento.

The Midnight Gospel está disponível na Netflix e a 1.ª temporada conta com oito episódios com uma duração de cerca de vinte minutos.

Bruno Pereira