[Contém spoilers]
Ruby (Merritt Wever) e Billy (Domhnall Gleeson), dois ex-namorados que não se veem desde os tempos de faculdade, largam as suas vidas para pôr em prática um antigo plano de fuga que criaram juntos.
Para quem não conhece ou não é fã de Wever e Gleeson, Run é a forma perfeita de os ficar a conhecer. Para além da química inerente que estes dois conseguem projetar, mais as personalidades tontas e divertidas que se complementam na perfeição, esta série assenta-lhes tão bem que parece ter sido escrita para eles. Toda a loucura e estranheza do enredo diminui perante a facilidade com que estes dois atores se entregam às suas personagens e as interpretam com uma genuinidade tal que estas nos parecem perfeitamente reais, até nas circunstâncias pouco plausíveis em que se encontram. Neste primeiro episódio, não só somos apresentados a duas personagens interessantes, complexas e reais, como a dois fantásticos atores no pico da sua forma. Esta é, não só a melhor parte desta série como, diria eu, a própria essência de Run. Toda a série pode ser resumida ao trabalho, à interação, e ao rapport que estes dois atores conseguem demonstrar em cerca de 30 minutos.
Abrimos a série com Ruby, claramente entediada com a sua vida, com o namorado (?) que só conhecemos através das respostas da própria Ruby e com aquilo que assumimos que é a sua rotina diária. Temos menos de 5 min de introdução a uma personagem pacata e conformada. E depois uma mensagem: RUN. Em menos de meio minuto a série muda completamente. Ruby hesita, responde por impulso e de repente ganha novamente vida. A banda sonora (que é outro dos pontos fortes desta belíssima série) muda completamente para refletir a energia nervosa e entusiasmada que vemos agora em Ruby e tudo acontece num ápice: um bilhete de avião, uma viagem de táxi, um comboio e ele… E depois o choque de realidade, aquele momento de dúvida que ameaça deitar tudo abaixo.
Podia continuar e levar-vos assim numa visita guiada pelo resto do episódio em que vos vou chamando à atenção dos meus pormenores favoritos, mas não quero, não porque vos estrague a surpresa, mas porque não há palavras que descrevam aquilo que Merritt Wever e Domhnall Gleeson conseguem construir em tão pouco tempo. Todo o episódio, toda a série, provavelmente, lhes assenta nos ombros e prometo que lhes assenta perfeitamente. Peço-vos apenas o seguinte: prestem atenção. Run é uma série que se vê perfeitamente com metade da atenção na atualização das stories dos amigos no Instagram, mas por favor não façam isso à vossa vida. Eu sou a primeira pessoa a ver as séries em formato multitasking e 9 vezes em 10 não há problema nenhum e não se perde nada, mas Run não dá para isso. Aliás, a única falha séria que eu tenho a apontar à série é o facto de não ser mais óbvia na maneira de nos chamar à atenção e de nos prender. Run é uma espécie de pérola escondida dentro de si própria. É uma série que precisa da nossa atenção, mas que não a sabe pedir. O chato disto é que pestanejando perdemos a magia da coisa. O bom é que, uma vez dentro, é espetacular.
Run é definitivamente uma série que vale a pena ver, especialmente para os românticos incuráveis que estão, a esta altura, a sofrer as consequências do distanciamento social. Para os fãs dos nossos protagonistas, é o paraíso. Para todos os outros, é das melhores e mais interessantes rom-coms que vi nos últimos tempos, com a vantagem de ser num formato mais prolongado. Em resumo, vão ver. Agora. RUN!
Raquel David