[Contém spoilers]
Desenfrenadas é a nova aposta da Netflix na midseason. A gigante do streaming volta a investir num mercado não americano e leva-nos novamente à América Central, mais propriamente ao México. Para meu grande alívio, não voltam a investir numa série totalmente centrada em cartéis ou tráfico de droga.
A série conta a história de três amigas de infância muito diferentes. Rocío (Bárbara López), uma médica que acabou o curso e que está prestes a partir para a Suécia para realizar a sua especialização; a menina certinha que aceitou o pedido de casamento do namorado de sempre. Vera (Tessa Ia), uma jovem rebelde, temperamental e que vive no limite; filha de pais ricos e jornalista de moda que ambiciona ser editora. E Carlota (Lucía Uribe), uma feminista que escreve poesia, revoltada e determinada.
Apesar de serem as melhores amigas, as três têm-se vindo a afastar por razões normais da vida. No entanto, à medida que o episódio avança descobrimos que apesar de tudo o que as distingue, Carlota, Vera e Rocío têm muito em comum, para o bem e para o mal. Todas têm problemas e parece-me que este episódio piloto foi uma prova de que elas precisam umas das outras para se ajudarem a curar mutuamente.
Apesar de ter uma vida aparentemente perfeita, Rocío é a que mais infeliz parece ao longo do episódio. É óbvio que não ama o namorado o suficiente para casar com ele e sofre com a pressão dos pais para ser perfeita e sofre com a partida da irmã (é impressão minha ou eles não esclareceram se Sofía faleceu ou se simplesmente se fartou da família e foi-se embora?). Vera viu o cargo de editora ir para outra e que ninguém gosta dela; gosta de um DJ idiota e pretende ir ao seu concerto em Oaxaca apesar de ser notório que ele não está no mesmo patamar que ela. Já Carlota sente que o seu trabalho como escritora não é bom o suficiente para ser lido ao público. Ela é a que menos exposição tem no episódio, mas é claro que ela é que é o porto de abrigo das amigas e a mais racional e estável.
O episódio culmina no discurso de final de curso de Rocío, em que está claramente perturbada e sem saber bem o que fazer à vida. E não são os pais nem o namorado que ela quer que a consolem. Não. Quer Vera e Carlota. Às vezes nós só queremos as nossas amigas e mais ninguém. As amigas são a família que escolhemos, irmãs de coração e da vida e que estão sempre lá para nós. A minha vida sem as minhas amigas seria muito mais vazia e mais cinzenta.
E é assim que as três partem numa road trip para irem ver o concerto do pseudo-namorado de Vera. Claro que não vai ser um mar de rosas. Elas têm de lidar com os seus demónios, umas com as outras e com o que quer venham a encontrar no caminho. Literalmente.
Eu ao início disse que esta era a história de três amigas. No entanto, aquele final de episódio deu-me a entender de que um quarto elemento se vai juntar ao grupo. Marcela (Coty Camacho), uma mulher que se vê em maus lençóis com um criminoso por causa do namorado. Deve encontrar Vera, Carlota e Rocío pelo caminho e forçá-las a juntar-se na viagem. Vai ser interessante. Acho que arranjei uma nova série fixe para ver.
Maria Sofia Santos