[Contém spoilers]
Depois da chegada de um misterioso objeto alienígena à Terra, Niko Breckenridge (Katee Sackhoff) e a sua jovem tripulação são enviados numa missão espacial na tentativa de estabelecer contacto, enquanto da Terra, o seu marido, Eric Wallace (Justin Chatwin), tenta fazer o mesmo.
Devo confessar que achei este episódio um início um pouco atabalhoado para uma série que promete mais do que revela para já. Há muita coisa a acontecer em rápida sucessão e não temos grandes momentos de build-up que suportem as várias revelações que vemos no decorrer do episódio. Portanto, parece que acontece tudo ao mesmo tempo e temos de ser nós a lutar para perceber o que se passa entre as toneladas de informação que nos despejam em cima. A grande vantagem, no entanto, é a inegável força gravitacional de Another Life que nos agarra com a chegada do objecto alienígena e nos segura o interesse até ao fim.
Numa tentativa de iniciar o primeiro contacto, Niko é enviada para o espaço, com destino ao local de onde originam os sinais emitidos pelo estranho objeto alienígena que aterrou no nosso planeta. A missão, que pode muito bem ser pela defesa da Humanidade, é delicada e extremamente importante e Niko sente-se responsável pela sua realização. No entanto, a sua jovem tripulação, assim como o ego do seu antigo aluno Ian Yerxa (Tyler Hoechlin), revelam-se inadvertidos obstáculos ao seu objetivo comum o que justifica um pouco, tanto a estranha química e o ambiente desconfortável entre membros da equipa, como as reações em cadeia que alimentam o episódio. No entanto, não parece haver um gatilho para a animosidade que se sente e para os eventos que vemos desenrolar, pelo que fiquei com a sensação de que a única coisa que falta realmente a esta série é tempo. Tempo de estabelecer as personagens, tempo de sentir a acumulação de pressão, de sentir a frustração dos tripulantes e de finalmente os ver exprimir a sua revolta. De outra forma, o motim que vemos parece apenas um mecanismo muito claro de estender aquilo que deveria ser uma rápida missão de colecção de dados, numa extensa e perigosa missão pelo futuro da Humanidade que deverá ocupar, pelo menos, a totalidade da primeira temporada. Penso que será esta a única grande falha de Another Life, forçar a acção para criar enredo, em vez de dar tempo às personagens para se desenvolverem e estabelecerem o desenrolar da história.
Há, no entanto, que reconhecer um ponto muito positivo e muito prometedor nesta série. A única personagem que tivemos o privilégio de conhecer melhor, Niko, e por extensão, a sua família (Erik e Jana, sua filha), revelou-se interessante e complexa e de relações fortes e profundas. Claro que talvez isto seja produto do seu protagonismo, mas quero acreditar que é uma promessa de um desenvolvimento grande para as personagens que habitam esta série que vai, a longo prazo, tornar a série num fenómeno maior do que vemos por este primeiro episódio. É irónico que numa série sobre a existência de vida alienígena falte manifestar, acima de tudo, o factor humano. Agora, com a vida de toda a raça humana em risco, fico à espera de ver mais daquilo que esta tripulação está a lutar por preservar.
Apesar do tema, não é uma série que eu aconselhasse aos fãs hardcore de sci-fi. É mais uma série para o millenial que gosta da ocasional visita ao espaço e do drama inerente de forçar um grupo de desconhecidos a trabalhar em conjunto numa situação de alta pressão. No entanto, e apesar de um início atribulado, tenho esperança que Another Life se revele progressivamente melhor.
Raquel David