Westworld – 02×10 – The Passenger
| 29 Jun, 2018

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[Contém spoilers]

Épico! Magnífico! Bíblico! Bem-vindos a The Passenger, o último episódio desta temporada de Westworld. Mais do que questionar a realidade, vamos questionar os acontecimentos deste último episódio, e foram tantos!

Começamos por saber que não foi Ford quem construiu Bernard, mas sim Dolores. Ford ordenou a Dolores que construísse o seu amigo Arnold, com base nas memórias que tinham dele. Dolores criou milhares de cópias, mas nenhuma conseguia ser perfeita, até que percebeu que isso não seria possível, uma vez que Arnold não era perfeito. Ela construiu então o Bernard que tão bem conhecemos.

Voltando à história, Maeve consegue a ajuda de uns anfitriões e liberta-se encontrando Hector e o resto do seu grupo. Rapidamente vão em direção do lugar para além do vale; nisso, uns militares da Delos surgem e, num ato heroico muito próprio, Sizemore sacrifica-se pelo grupo.

Mas Bernard e Dolores são a peça chave da história. Depois de tramar William, inclusive fazendo com que a sua mão explodisse, Dolores e Bernard entram na forja; lá encontram várias coisas. Primeiro, visitam a primeira experiência de James Delos no parque. Ao mesmo tempo, encontram outra versão de Delos bem mais cruel e violenta. Eles explicam que aquilo é uma variável do comportamento de Delos, ou seja, é uma das milhares e milhares de cópias que foram feitas de Delos e que, por alguma razão, acabavam todas por não funcionar. A única coisa que acontecia sempre era uma cena onde Delos rejeita Logan quando este lhe vai pedir ajuda. Logan morreria poucos meses depois e provavelmente Delos sempre se culpou por esse acontecimento. Todas as suas variáveis iam dar a esse ponto. Inclusive, o sistema da forja assume a imagem de Logan para explicar estas coisas. Os humanos, ao contrário do que se pensa, são mais simples do que os anfitriões. De certa forma, o nosso livre-arbítrio é uma falsidade que nos é apresentada. O nosso caminho está traçado e, por mais que se mude a variável, vamos sempre dar ao mesmo.

Dolores vai ao armazém onde estão as cópias das informações dos visitantes do parque. O armazém é retratado como uma biblioteca e cada livro representa o conteúdo sobre cada visitante. Dolores lê tudo. No episódio, ela apenas pega num livro, mas a conceção de tempo na forja é diferente e, mais à frente, percebemos que ela sabe as informações todas.

Descobrimos que o “para além do vale” se refere a uma espécie de paraíso virtual para o qual os anfitriões mortos vão, com o objetivo de que possam ser livres lá dentro. Bernard abre a fenda para o lugar e os anfitriões começam a deslocar-se para lá, deixando os seus corpos no parque e entrando nesse tal paraíso que só os anfitriões veem. Dolores quer destruir o local; quer ir para o mundo real e refuta a ideia de que aquilo é um local de liberdade. Ela coloca a pedrinha de Teddy no paraíso, mas, ainda assim, diz que vai destruir aquilo, uma vez que a liberdade é apenas mais uma ilusão criada pelos humanos. Ela refere que aquele local é, na verdade, uma gaiola dourada. Bernard e Dolores ficam frente a frente e Bernard dá um tiro no olho de Dolores, matando-a. O corpo de Dolores é encontrado mais tarde por Bernard, Strand e Charlotte no presente.

Os anfitriões estão a ir para o tal paraíso quando um “cavalo do apocalipse” é lançado. Clementine vai, como um vírus, levar a que os anfitriões se matem uns aos outros. Gera-se uma confusão para tentarem chegar ao paraíso. Alguns conseguem, como é o caso da filha de Maeve e da sua nova mãe, em mais uma cena tocante. Maeve é assassinada enquanto vê, com um sorriso nos lábios, a sua filha sã e salva. Aliás, praticamente todos os anfitriões morrem nessa cena.

Depois de matar Dolores, Bernard encontra Elsie, que lhe diz que a Delos vai decidir o que fazer com ela. Elsie trai Bernard, tal como Ford tinha avisado, pois quer ganhar algo com as informações que descobriu sobre a empresa. Ela tenta chantagear Charlotte, mas esta mata-a. Bernard percebe que Dolores estava certa e devido a uma alucinação com Ford como a sua consciência, ele constrói um novo anfitrião com a mente de Dolores. O anfitrião tem a forma de Charlotte. Dolores mata Charlotte e assume a sua forma, revelando que a Charlotte do presente que vemos desde o primeiro episódio sempre foi Dolores! A ceifeira da morte mata Bernard e segue infiltrada para o novo mundo. Stubbs tem uma conversa com ela, dando a ideia que sabe quem ela é, mas deixa-a ir porque, segundo ele, o seu objetivo é proteger os anfitriões e apenas responder a Ford. Fica a ideia de que Stubbs também é um anfitrião infiltrado.

Dolores vai até à casa que Arnold tinha construído para a família e leva cinco bolinhas com as informações de cinco anfitriões que não sabemos quem são. Lá, ela constrói o seu corpo de novo e recria Bernard porque, tal como ela diz, precisam um do outro para sobreviver. Bernard sai para o novo mundo, levando a que finalmente as máquinas entrem no espaço humano.

Depois dos créditos vemos uma cena muito épica. William vai até à forja, onde é recebido por um anfitrião com a forma de Emily, a sua filha. Ela leva-o até uma divisão muito semelhante à que vimos James Delos a ser testado. A forja encontra-se cheia de terra e com um ar abandonado. Emily começa a testar a fidelidade de William, ou seja, o William que vemos é um anfitrião. Não! O nosso William é um humano, este é que é um anfitrião. Isto porque, segundo os criadores da série, esta cena acontece muito no futuro, numa altura em que provavelmente o William humano já morreu e os anfitriões precisam de recriar o homem de preto. A mensagem deste episódio diz-nos que nós existimos até à última pessoa que se lembre de nós e, por isso, eles usam as lembranças de Emily para testar William. Existe uma teoria, da qual eu gosto, de que esta cena acontece num futuro onde os anfitriões lideram o mundo, muito à imagem do “Planeta dos macacos”. A verdade é que Westworld ainda tem muito para nos mostrar!

O texto já está grande e por isso aproveito só para agradecer, em meu nome e do Séries da TV, a todos os que acompanharam estas reviews ao longo destes dois meses. Confesso que foi um desafio tremendo abraçar esta série de uma maneira tão profunda. Westworld é uma série fantástica de proporções bíblicas e com mensagens filosóficas importantes para todos nós refletirmos. Um muito obrigado e vamos lá continuar a questionar a natureza da nossa realidade!

Carlos Real

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