Um homem que entrega pizzas é assassinado com dois tiros na cabeça, poucos momentos após ter entregue uma pizza num apartamento no sul de Londres. Mas terá sido ele o destinado para aquele tiro? Foi apenas coincidência o facto de a sua gerente ter trocado a pessoa responsável pela entrega à última da hora? E será o facto de a única testemunha, uma rapariga que se encontrava na rua, estar sob o efeito de drogas, também uma coincidência?
É esta a premissa da nova série Collateral, uma colaboração entre a BBC e a Netflix, dividida em quatro episódios. Esta série tem a particularidade de não ter uma história central, nem uma ou duas personagens que possamos dizer que são as principais; a partir da história do homicídio somos apresentados a várias personagens, que se irão interligar, mais cedo ou mais tarde. Tenho que dizer que esta não é a ideia mais original por parte dos escritores, mas ao menos foge um pouco do típico drama criminal, já que não estamos apenas focados em resolver o mistério, mas ficamos interessados na história das restantes personagens.
Um dos pontos mais marcantes deste episódio é também a sua forte mensagem política: o homem que morre é Abdullah Asif, imigrante ilegal sírio, que fugiu para Inglaterra para escapar à guerra, juntamente com as suas duas irmãs. Estas são encontradas pela detetive Kip (Carey Mulligan), quando esta as vai informar da morte do seu irmão. Encontra-as a tremer de frio, numa garagem, apenas com uns cobertores no chão. Também Linh (Kae Alexander), a única testemunha do assassinato, é imigrante ilegal em Inglaterra, tendo prolongado o seu Visa mais tempo do que o permitido. Estas três personagens sentem-se extremamente inseguras no país, pelo facto de poderem ser deportadas a qualquer momento, fazendo com se sintam com bastante receio de falar com a polícia. Além destas, David (John Simm) é membro do Partido Trabalhista e tem fortes opiniões a favor dos imigrantes em Inglaterra e ideias contra o Brexit. A série é extremamente crítica da situação que os imigrantes enfrentam em Londres e das consequências futuras de uma deportação.
Assim, não só estamos interessados em saber quem matou (o que é revelado neste episódio) e o porquê, mas sim toda a situação sócio-económica que pode estar por detrás deste tipo de situações.
Um episódio que tentou introduzir demasiadas histórias e personagens num curto espaço de tempo, mas que mesmo assim conseguiu um episódio decente, equilibrando o crime e mistério com drama, juntando bastantes assuntos políticos relevantes à mistura! Vale a pena espreitar.
Ana Oliveira