[Contém Spoilers]
That Will Be the Day, um episódio que teve tudo o que um excelente episódio de série deve ter: muita emoção, como não poderia deixar de ser, caso contrário não seria This Is Us; mas também muita alegria, atitudes de redenção com a vida, ações inspiradoras, regresso ao passado, romance, alegria, momentos familiares e com a música perfeita para cada cena.
Este episódio marcou o primeiro dia da nova missão de Randall para com as pessoas que habitam o prédio que foi outrora a morada de William. E Randall teve reforços de peso: em primeiro lugar, a outra metade desta sociedade, Beth, para racionalizar e comedir o entusiasmo de Randall para restringir tanta vontade ao realismo e exequibilidade prática perante o cenário em que tinham de intervir. A primeira reunião com os inquilinos mostrou que havia muito a fazer, todos tinham necessidades não respondidas e algo a precisar de arranjo nos seus apartamentos. Foi aí que entrou o segundo reforço: Kevin, no seu caminho de redenção para com aqueles que magoou e desiludiu e para se manter ocupado e longe da bebida. A dupla Randall/Kevin deixou bem patente neste episódio que herdaram muito da personalidade do seu pai Jack e, sobretudo, que aprenderam muito com ele. A carpintaria e vontade de ajudar estava “no sangue” dos dois e não tiveram hesitações em deitar mãos à obra, arregaçar as mangas (que, por sinal, proporcionou às inquilinas lavar as vistas), pegar na caixa das ferramentas, derrubar paredes… Enfim, tentaram restabelecer um prédio velho e a necessitar de uma revolução que Beth sabia que tinha de ser gradual, mas que Randall idealizou que fosse feito do dia para a noite, uma mudança do tamanho da sua vontade e ambição para com aquelas pessoas. Foi um núcleo de grande humor, mas, mais do que isso, de inspiração, uma vez que esta missão foi operada com o objetivo de melhorar a vida de outras pessoas, por si só, sem esperar nada em troca, a atitude mais nobre possível. O resultado de tanta vontade em “salvar o mundo” num dia só é que foram abertos buracos nas paredes que “convidaram” uma praga de baratas e Randall teve de hospedar todos os seus inquilinos numa pensão até as invasoras estarem exterminadas.
Kevin tem uma check-list de pessoas com quem precisa de se redimir, fazer as pazes, virar a página… e já tem vários sucessos na lista, nomeadamente os irmãos, a sobrinha que colocou em perigo e, recentemente, a sua mãe. O próximo pedido de desculpas é um bem complicado: Sophie. Kevin sabe que errou, o álcool desculpa alguma coisa, mas não desculpa tudo… ainda assim acho que a grande maioria dos fãs está a gostar desta nova atitude, é o caminho certo para Kevin. No entanto, com Sophie, Kevin consegue ser perdoado, mas não parece haver volta a dar na relação. Sophie já foi muito magoada e prefere lembrar-se do bom passado com Kevin do que amealhar mais memórias negativas. No meio desta jornada de desculpas, Kevin enviou uma carta a Charlotte a explicar o seu comportamento na noite de regresso à sua cidade e a justificação serviu para conseguir recuperar o fio recebido do seu pai, que tanto significado tem para ele. No entanto, no final da lista há um nome por riscar e, infelizmente para Kevin, nunca poderá desculpar-se e fazer as pazes com o seu pai.
O casal Kate e Toby ganha um parceiro de casa que vai mexer com a dinâmica deste casal: um cãozinho chamado Audio, que Kate resgata do canil para satisfazer o desejo do seu futuro marido de ter um cão. Aqui mais uma vez uma atitude louvável e de grande generosidade, acolher um animal do canil e proporcionar-lhe uma nova vida. E sabemos que foi um grande obstáculo para Kate que, depois de ter perdido o seu cãozinho na adolescência, o assunto canino sempre foi sensível para ela. Mas tem agora um novo elemento em casa para criar boas memórias.
No passado fomos até à última noite de Superbowl com a família Pearson completa, uma vez que os três irmãos estão prestes a rumar à faculdade. Ao que tudo indica, essa terá sido a noite em que Jack perdeu a vida nas chamas.
Jack está super entusiasmado, a acabar de construir a mesa da televisão (hobbie que o deixa com a cabeça longe da bebida) para a sessão de Superbowl em família. Rebecca está a preparar os petiscos para a noite… mas os filhos têm outros planos.
Kevin vive tempos complicados; depois do seu sonho do futebol ter caído por terra, ver as estrelas do outro lado do ecrã, sabendo que nunca poderá ser uma delas, não é um programa do qual queira fazer parte. Além do mais, a somar a essa frustração está o facto de não poder ingressar numa boa universidade não sendo a via do desporto possível e não tendo notas que o permitam. Está então no topo da sua rebeldia e arrogância, responde mal e injustamente aos pais e vai passar a noite a casa de Sophie, ficando a dever-lhes um pedido de desculpas. Para Rebecca, o pedido chegou nessa mesma noite por telefone. Para o pai nunca chegou a acontecer, tendo em conta que aquela foi a fatídica noite em que Jack perdeu a vida. Jack deixara um bilhete na porta de Kevin a dizer que o adorava apesar de tudo e à espera do tal pedido de desculpas, mas o bilhete foi consumido pelo incêndio que devastou a casa; Kevin nunca o leu e Jack continuará sempre a ser um nome por riscar na lista de desculpas de Kevin.
Quanto a Randall, também sabemos que nunca se interessou muito por futebol e naquela noite estava comprometido com o encontro com a sua recente conquista, Allison, e trocou o plano em família por uma noite a rever Titanic, mas até lhe correu bem, ganhando um beijo. A noite infelizmente não ficaria por ali…
Kate recebe uma carta a pedir que envie uma canção original sua como teste para conseguir entrar na escola de música que tanto quer. Sabemos que Kate sempre teve os seus receios e dúvidas, mas, como sempre, o pai Jack estava lá para lhe dar força e a motivar neste desafio. Também ela troca a noite com os pais para ir a uma festa com os colegas.
Sobram então Jack e Rebecca e dois é o número perfeito para uma noite romântica. O amor está no ar, Jack tinha pensado num meio termo relativo ao seu sonho de negócio, começar por comprar e vender casas para ganhar experiência sem se despedir, para não comprometer a sustentabilidade da família. E queria a sua parceira de vida como parceira de negócio. Rebecca já tinha até encontrado a primeira casa para porem o plano em marcha. A ideia só aumentou o clima romântico entre os dois. Tínhamos então o cenário perfeito. Mas tudo estava prestes a ruir.
No início do episódio tinham-nos apresentando um casal de velhotes que tentavam vender a sua casa e por isso se desfaziam de velharias. Pelo meio, pudemos suspeitar que fossem os donos da casa que Rebecca encontrara para comprarem. Mas não, eram os vizinhos de Jack e Rebecca, no período em que estavam à beira de ser pais. Esse velhote ofereceu então uma panela elétrica ao casal e foi essa panela que fez curto circuito e despoletou o momento mais negro desta família. A cena final é pensada ao detalhe e é de uma perfeição poética. Vemos os últimos momentos de Jack antes de tudo acontecer, desde a conversa com Randall, arrumar a cozinha para Rebecca, escrever o bilhete a Kevin, guardar a cassete da canção de Kate, até à festinha ao cão que parece ter sido outra vítima do incêndio. O fogo começa e vai correndo de objeto em objeto. Simultaneamente vamos vendo o momento em que cada um desses objectos chegou à vida do casal, dando-nos a clara sensação de que a vida e sonho que foram construindo ao longo de anos estavam a ser subitamente destruídos pelas chamas que se expandiam sem piedade… as molduras de família, o bilhete para Kevin, as marcas na parede das diferentes alturas dos irmãos ao longo da sua infância… memórias e felicidade fustigadas pelas implacáveis chamas. E toda a cena é acompanhada pela música “Build a Home”, ironia ou detalhe… a verdade é que é uma música linda e que só tornou a nossa tarefa de suster as lágrimas mais complicada. Simplesmente comovente!
Espera-nos um episódio de emoções muito fortes na próxima semana!
André Borrego