[Contém spoilers]
End of the line?
Esta semana tivemos ação e fantasia a dobrar nas Four Lands. A viagem até Paranor, o confronto com Bandon, a guerra com os Crimson e a revelação dos poderes ocultos de Eretria foram só algumas das coisas que encheram o mid season de The Shannara Chronicles. Este episódio duplo foi um bom entretenimento de uma forma geral, mas que analisando por partes ficou aquém nalgumas e confusas noutras. No final temos um build-up dos enredos que funcionou melhor nos episódios anteriores do que a entrega do auge da história. Podia ter sido um mid season excelente ou mesmo épico, mas ficou-se pelo bom.
Vamos então analisar por partes para ver os diferentes pontos positivos e negativos de cada enredo.
Eretria e Jax
O episódio começa com os dois a fugir dos guardas de Leah e parece que apanhamos o episódio já a meio. O que se passou para estarem a ser perseguidos? Um mistério que não interessa e que fica por resolver.
Alguém até aqui tinha percebido bem quem era Cogline? Também me parece que não, mas as boas notícias são que no final do episódio ficamos a perceber a sua relação com Eretria. Originalmente Cogline é uma personagem introduzida em The Wishsong of Shannara (o livro final da trilogia original de Shannara) que possui uma idade muitíssimo avançada e sinais de demência. Na adaptação televisiva vemos uma versão muito mais jovem e lúcida. Eretria começou na temporada passada como uma simples Rover com um passado difícil, mas conseguiu não só contribuir para o salvamento de todos os elfos, como também se tornou uma das personagens favoritas da série. Se bem se lembram na missão para salvar a Ellcrys, Eretria foi vital para desbloquear o Bloodfire usando o seu sangue, o que quase lhe custou a vida. Esse foi um dos primeiros sinais que mostraram que Eretria era mais do que uma simples humana e é Cogline que nos explica que ela pertence a um grupo sobrevivente das Great Wars chamado de Armageddon’s Children – uma raça híbrida entre os humanos e os demónios que, possuindo uma aura negra, pode controlar ou ser controlada por magia negra. Após a mãe de Eretria ter sido morta por um demónio, esta pede ao ex-druida Cogline para proteger a sua filha. E com o prenúncio de que o Warlorck Lord está para regressar, Cogline decide usar um Mord Wraith de baixo nível (os monstros com mantos negros que trabalham para o Warlock Lord) para treinar Eretria a resistir ao controle da magia negra.
É-nos ainda revelado o acordo que a rainha Tamlin fez com o Warlock Lord e pode-se dizer que o reino dos humanos não está nada bem representado com aquela rainha no trono. E parece que Leah é capaz de ser mesmo uma prima de Fillory de The Magicians. Ambos os reinos encantados possuem poços mágicos que são cobiçados pelos vilões.
Na semana passada descobrimos que Jax pertenceu à equipa de elite da Legião Fronteiriça e que perdeu todos os membros do seu esquadrão num ataque de demónios. Nesse seguimento vemos agora que o dinheiro que ele faz como caçador de recompensas não é todo gasto em tavernas, mas que serve também para ajudar os familiares dos falecidos membros da Legião Fronteiriça. Somos apresentados a Sheema (mulher de Conor que também pertencia à Legião) e ao seu filho Desmin, cujo destino não podia ter sido mais cruel. Sem ligações políticas ou pessoais que levassem Jax a continuar envolvido na guerra contra os Crimson, se estes o tivessem deixado em paz provavelmente não o tinham voltado a ver, mas Valcaa decide picar o mortífero urso e acaba a assassinar Desmin. Má ideia… mas que nos proporcionou boas cenas de ação tanto no primeiro round como no segundo de Jax vs. Valcaa.
Façamos agora uma pausa para analisar algumas coisas que não achei estarem tão bem. Primeiro, teria preferido a morte de Sheema e não de Desmin. Porquê? Com a morte de uma criança às mãos de Bandon no episódio passado, mais uma morte do género faz parecer que é tudo demasiada violência gratuita. Segundo, tendo Jax ficado já investido na guerra contra os Crimson depois deste ataque, a contração de Tamlin para este matar Rigga foi um bocado redundante e desnecessária. E por fim, como raio é que Valcaa foge da prisão de Leah sem mais nem menos e depois os Crimson conseguem invadir o casamento de Ander e Lyria tão facilmente? Reino com a pior segurança de sempre!
Ander e Lyria
Ander tem evoluído de forma lenta mas constante desde a primeira temporada e nesta conseguiu transformar-se numa personagem sólida com quem o público consegue simpatizar – e apoiar. Basicamente tornou-se num rei digno. A sua aliança e casamento com Lyria prometiam um plano viável e sólido de retornar ao seu reino e tratar dos problemas do seu povo. Tudo parecia bem e nem acredito no que depois aconteceu… será mesmo? Não haverá nenhuma maneira de ele ser salvo? A sequência de ação final foi incrível: o general Rigga é um lutador exímio e a cena permitiu a todas as personagens brilhar, desde a entrada triunfal de Eretria e Jax e com destaque para o rei Ander, mas mesmo Lyria e até Slanter exibiram as suas habilidades de guerreiros.
Wil e Mareth
A maior parte do episódio duplo foi ocupado pela aventura de Wil, Mareth e Allanor. Chegados a Paranor foi posto em prática um plano astucioso para prender Brandon. E tudo podia ter logo terminado ali não tivesse Bandon envenenado Flick com a espada do Warlock. Para salvar Flick, Will tem então que abrir o cofre e encontrar o crânio do druida negro. Nesta sequência é revelado que Mareth é definitivamente filha de Allanon, pois o cofre só podia ser aberto por um Shannara e alguém com sangue de druida. Surpresa das surpresas é o que espera Wil e Mareth ao rodarem a chave… e são magicamente transportados para Shady Vale no passado, antes de o destino bater à porta de Shea Ohmsford. Esta parte da história apesar de nos proporcionar conhecer Shea antes de este ter sido afetado pela guerra e mostrar a Wil o pai que podia ter tido, quando analisada à lupa perde muito sentido. Aconteceu que Bandon não conseguiu arranjar maneira de abrir o cofre, mas se ele ou outro vilão conseguisse teria a vida mais que facilitada para mudar completamente o presente. Para quê recuperar a caveira do Warlock quando poderiam ter morto Shea e impedido que ele tivesse derrotado o vilão em primeiro lugar? Para adicionar lenha à fogueira temos que nos perguntar se a viagem de Wil salvou Shea dos Mord Wraith ou se Wil se arriscou a ter mudado completamente a linha temporal. Ter-se-ia já antes passado tudo como agora ou Wil esteve a um passo de quebrar o tempo? Estas viagens temporais nunca são coisas fáceis de analisar. Por tudo isto, se pensarmos bem, o sítio escolhido para guardar a caveira é capaz de ser o pior de sempre. A chegada de Allanor a Shady Vale do passado é comparável à chegada de Gandalf ao Shire em Senhor dos Anéis para levar Frodo na maior aventura da sua vida, mas que lhe deixaria marcas para toda a vida, assim como aconteceu com Shea.
Outro mistério que é revelado é o porquê de Allanor estar tão fraco e a ser sempre derrotado por todos os adversários, como referi na review anterior. Pelos vistos o que acontece é que o seu tempo de vida está a chegar ao fim (é provável que, mesmo que a série seja renovada, Manu Bennett esteja de saída).
“For the greater good” é basicamente o lema de Allanor e as vidas que se perdem pelo caminho são apenas danos colaterais. Wil lutou com todas as forças para que ao mesmo tempo que travava Bandon também conseguisse salvar o seu tio Flick. Infelizmente acabou por perder tudo e a maldição dos Shannara começa a destruir a alma de Wil, assim como fez com a de seu pai. E quanto às visões que teve enquanto lutava com Bandon: irá Mareth ser morta? Eretria passará para o lado do mal? O que significa tudo aquilo? Esperamos para ver.
Foi um midseason com muitas perdas para o lado dos heróis que se veem a ser derrotados em várias batalhas. Para a semana eles terão folga para reagrupar e planear o contra-ataque contra as forças malignas, chegando o próximo episódio apenas a 22 de novembro. A boa notícia é que teremos de novo episódio duplo! “Warlock” e “Amberle”, a escuridão e luz, com o iminente regresso do Warlock Lord, Allanon à beira da morte e a espada de Shannara quebrada, será que resta alguma esperança? Até lá, que as pedras élficas iluminem o vosso caminho!
Uma má noticia para a série no seu todo é que as audiências não andam muito famosas. Apesar de a qualidade desta 2.ª temporada ter melhorado e os produtores estarem não só a expandir o universo dos livros como também a estabelecer um universo televisivo com uma boa base de fãs, é possível que esta saga infelizmente não veja uma 3.ª temporada. Nada é certo ainda e quem sabe se a série não consegue renascer tantas vezes como Allanon. De qualquer maneira, aproveitem bem os episódios que faltam até ao final desta temporada.
Emanuel Candeias