This Is Us voltou às noites arrebatadoras… Esta série nunca tem maus episódios. Mesmo quando não são semanas muito exuberantes há sempre algum detalhe que dá o seu toque especial. Contudo, e a meu ver, vínhamos de duas semanas que, não deixando de ter alguns desses bons momentos, não atingiram aquele patamar ao qual os fãs da série se habituarem. Com The 20’s retornámos a esse patamar que é marca constante de This Is Us: quando consegue arrepiar-nos, inspirar-nos e emocionar-nos verdadeiramente.
Este episódio deixou-nos ainda com uma certeza reconfortante, há ainda muito para explorar e contar acerca desta família de que tanto gostamos. Nos últimos tempos tínhamos estado a ver recorrentemente o tempo presente e no passado oscilávamos apenas entre o período que se seguiu à segunda crise de Jack com o álcool e consequente conflito com Rebecca e o período dos “10 anos” dos “Big Three”. Desta vez visitámos outra época, à qual nunca tínhamos ido ainda: os “20 anos” dos três irmãos.
Kevin trabalhava num cabeleiro para se sustentar enquanto não surgia a sua oportunidade nos palcos. A verdade é que fazia já bastante tempo que não ia a audições e nem por isso o seu ego estava mais comedido e a sua humildade mais visível. Kevin teve inclusivamente atitudes verdadeiramente egoístas tentando roubar um papel que um amigo da altura arranjara à custa da sua dedicação e perseverança. Não seria algo que estranhássemos em Kevin tendo em conta as suas atitudes enquanto criança e adolescente e até alguns comportamentos a que já assistimos em adulto. Sabemos também que a dificuldade em lidar com a perda do pai sempre o desencaminhou do trilho e dos valores que precisamente o pai e a mãe lhe haviam transmitido. Kevin esteve perto de ser um caso perdido, mas ele é muito mais que este lado egocêntrico e individualista. Já vimos várias cenas que nos provaram o contrário e neste episódio tivemos um exemplo numa altura inesperada, a sua infância. Kevin abdicou dos doces de Halloween que já havia recolhido, convencendo um rapaz de quem a sua irmã gostava a visitar a casa assombrada com ela e a segurar-lhe a mão, oferecendo assim um momento de felicidade a Kate.
Na mesma época, Kate passava por uma fase idêntica à do irmão. Continuava a não conseguir superar a morte do pai, trabalhava a servir às mesas e tinha também alguns comportamentos menos nobres, tendo ido para a cama com um homem casado. Foi neste período que os irmãos decidiram ir viver juntos e esse terá sido o primeiro passo para ambos virarem a página.
Já Randall, contrariamente aos seus irmãos, era bem sucedido profissionalmente e estava à beira de um momento tremendamente importante para a sua vida, o nascimento da primeira filha. Ainda a recuperar do colapso nervoso que se apoderou dele no momento em que tomou consciência que teria “um universo” à sua responsabilidade, um ser cheio de sonhos e ilusões… Randall está a recuperar, mas ainda apresenta um comportamento pouco ortodoxo, algo distante e muito complexado, bastante diferente do Randall que estamos habituados a ver no presente. E um dia antes do previsto, a pequena Tess vem ao mundo e traz consigo muitas respostas para o seu pai, tal como vaticinou o funcionário da loja onde Randall estava quando recebeu o aviso de que Beth estava prestes a dar à luz. A cena com Randall e o funcionário da loja, que por sinal era pai de cinco filhos e tinha a experiência do seu lado para partilhar com aquele futuro pai cheio de incertezas, foi mais uma prova de que This Is Us consegue transformar a cena mais banal numa cena insólita, num brilhante pedaço de arte! É por isso que desta série podemos esperar literalmente tudo!
Na fase dos “10 anos” dos irmãos tivemos dia de Halloween, com disfarces, travessuras e tudo a que temos direito (Randall de Michael Jackson, Kevin de “desleixado com charuto”, Kate de Sandy do filme Grease, Rebecca de Cher e Jack de “marido de Cher, Sonny”). Randall, o metódico da família, tinha um plano e um esquema para cobrir eficazmente as casas da vizinhança e recolher a maior quantidade e qualidade de doces. Mas os seus irmãos tinham diferentes planos, o que teve de separar os pais na noite das bruxas. Assistimos a uma Rebecca a censurar Jack por fazer todas as vontades a Kate com medo que esta se sinta frustrada, mas ao mesmo tempo sem noção de que fazia exatamente o mesmo com Randall. Sobrava obviamente Kevin, que naturalmente se sentia injustiçado por vezes. A noite que seria de diversão, sustos e doces culminou com “a conversa”: Randall foi confrontado com a verdade sobre o terceiro gémeo que os pais haviam perdido e questionou a sua mãe, que esteve à altura do desafio e lhe contou toda a verdade.
Aquilo que seria um simples episódio de Halloween foi bem mais que isso, foi um episódio bem denso emocionalmente e muito comovente. E para quem vai todo o mérito desta vez? Mandy Moore e a sua Rebecca, que desde o passado ao presente esteve sublime, brilhando sempre que apareceu em cena e estando particularmente magistral nos dois monólogos em que se apresenta respetivamente ao bebé Randall e à bebé Tess. Este episódio deu-nos ainda uma noção acerca do momento em que Rebecca e Miguel se terão juntando, um momento já longínquo do desaparecimento de Jack.
Dois grandes momentos continuam a marcar a marcha da ação na série sem dúvida alguma, o dia do nascimento dos três irmãos e o dia da morte de Jack. Mas já está mais que comprovado que o entretanto é rico em memórias e ainda há muitas histórias para serem contadas e para transmitirem genuínas emoções.
André Borrego