Déjà Vu é um episódio rico em memórias, memórias essas que marcaram imenso a família Pearson, tendo ainda um grande impacto no presente. E antes de avançar para o episódio permitam-me só elogiar algo que nunca tinha comentado acerca da série, os previously. Exatamente, aquelas pequenas sequências iniciais que nos recordam do que havia acontecido anteriormente. Normalmente os previously de outras séries vão sobretudo ao episódio anterior, aos últimos acontecimentos, melhor dizendo. Aqui, e em função da oscilação constante entre gerações, tal não seria muito útil, mas a escolha das cenas é sempre magistralmente selecionada para que, aliado à complementaridade e sintonia do próprio estilo da realização e montagem de cada episódio, nos deixem em condições perfeitas para desfrutar do presente episódio na sua plenitude.
E, desta feita, partamos de cada cena do previosuly rumo aos acontecimentos desta semana. Esta sequência inicial relembra-nos do problema de Jack com a bebida, seguido do compromisso assumido por Rebecca de enfrentarem este obstáculo juntos. E o que temos no episódio: uma bela noite de romance num momento complicado. Rebecca confessa à amiga Shelly (que pelo que percebemos nesta fase já seria ex-mulher de Miguel) que não havia sexo entre o casal “há já algum tempo”, as noites românticas também já eram bem distantes… afinal de contas, o romântico do casal era Jack. Era sempre a seu cargo que ficava esse capítulo. É bem típico num casal um dos dois ser o promotor do romance, mas não tem de ser sempre assim. Neste episódio, Rebecca encarnou a personagem de Jack Pearson, decidiu surpreender o marido com uma noite a dois. Jack tinha alguma dificuldade em expressar-se, em comunicar, e esse era o principal problema que enfrentavam. Mas se essa noite serviu de algo foi para Jack perceber de que sentia mais falta. Não seria tanto a necessidade puramente física, mas conversar. Isso mesmo, apercebeu-se de que sentia realmente falta era de conversar com a sua cara-metade. E a conversa correu muito bem, ambos se reconectaram ao lembraram-se de como eram felizes quando comunicavam e estavam em sintonia. O resto veio naturalmente. Por isso, namorados e namoradas por esse mundo fora, vamos aprender um pouco com o mestre e ser mais vezes “Jack Pearson”.
As cenas anteriores também nos recordaram da cena em que Randall enrolava a língua em “u” no supermercado, na sua demanda em busca dos pais biológicos. Mas só neste episódio nos apercebemos da profundidade e duração dessa procura. Randall nunca desistiu durante o seu crescimento – aliás, nem em adulto – de encontrar os seus pais “verdadeiros”. Desta vez fomos levados a conhecer uma pesquisa que levou a uma troca de cartas, que deu o alento a Randall para acreditar que estava perto da resposta que tanto procurava. Depois de um encontro marcado com a potencial mãe, não era mais do que um embuste de uma pessoa claramente “caucasiana” que apenas procurava ganhar dinheiro com a situação. E da demanda da adolescência, o déjà vu repete-se (passo a redundância) para o presente, no novo desafio relativo à adoção, com que tanto se debateu toda a sua vida; desta vez com um reforço substancial para o ajudar a encarar este obstáculo, a sua mulher Beth. O telefone toca e é finalmente a notícia que o casal ansiava.
De repente, a sua nova filha, Deja, está instalada lá em casa. Mas ao contrário de todas as tarefas que se previram difíceis para Randall e que este resolveu facilmente com estudo, ou treino, com a simples dedicação que o caracteriza, esta avizinha-se mesmo difícil. Deja é filha de pais biológicos problemáticos, a mãe acaba de ser presa. Parece não ser novidade para Deja, mas desta vez a duração desse encarceramento será bem mais longa do que todas as outras vezes. Deja é então uma rapariga revoltada, claramente traumatizada, vítima de violência; enfim, digamos que depois de William (que tivemos o prazer de rever num “amoroso” flashback), há um novo espírito libertino e rebelde a habitar sobre o teto de Randall, Beth, Tess e Annie. Randall já esteve do outro lado, mas este é um desafio bem maior que o superado por Jack e Rebecca anos atrás. Randall aprendeu a ser filho dos Pearsons desde que era recém-nascido. Deja teve já “uma vida” com os seus pais biológicos, vida essa que deixou marcas difíceis de moldar pela sua nova família.
Por fim, o núcleo dos gémeos. O previously recordou-nos da dificuldade que Kate tinha em falar sobre a perda do pai. O que nós não sabíamos ainda é que o irmão tivesse o assunto ainda mais mal resolvido. Não assistimos ainda ao momento em que Kevin teve conhecimento da morte do pai, mas percebemos claramente neste episódio que ele sempre reprimiu o que sente em relação à ausência de Jack. Neste episódio, devido a palavras de Kate, vê-se confrontado com essas emoções em pleno set da sua “prova de fogo” cinematográfica. E pior, instantes antes de uma cena bem emotiva e verdadeiramente importante, na qual contracena com Sylvester Stallone. Só nos permitem assistir a vários takes falhados por Kevin, toldado pela tristeza das suas memórias oprimidas, mas quero acreditar que o resultado final só poderá ter sido bom. Afinal de contas, as emoções genuínas e anteriormente escondidas estavam lá, a vir ao de cima numa cena que pedia isso mesmo.
Mais tarde, noutra cena, uma cena de ação, em ambiente de vida ou morte, sempre com o pai no pensamento, Kevin deixa “tudo em cena” e a sua determinação acaba por deixá-lo com um joelho lesionado. No final de contas e depois de ter sido bem idiota para com a irmã, Kevin consciencializa-se que Kate estava certa e segue-se o telefonema de “pazes” entre gémeos, bem bonito de assistir.
Em suma, mais um excelente episódio de This Is Us, como já vem sendo hábito. Despeço-me com uma fala daquele que foi para mim um dos grandes momentos do episódio, durante a curta aparição de Sylvester Stallone que, mesmo fazendo dele próprio, consegue deixar-nos com uma excelente lição: “there’s no such thing as a long time ago, there’s only memories that mean something and memories that don’t” (“há muito tempo é coisa que não existe, há apenas memórias que significam algo e outras que não”). E é certo e sabido que na família Pearson são muitas as memórias com grande significado.
André Borrego