[Contém spoilers]
“Mutant and proud… mutant and proud?!… if only”. – Mystique (First Class)
Depois da estreia da FX de Legion já este ano, tendo Logan sido aclamado como um dos melhores filmes de toda a saga X-Men e com mais dois filmes previstos para 2018, X-Men: The New Mutants e X-Men: Dark Phoenix, pode-se dizer que esta é uma altura ótima para ser fã dos mais icónicos mutantes de sempre. E é assim que The Gifted, a nova série da Fox, se junta ao plantão dos live-action do universo dos X-Men e se o piloto é indicador de alguma coisa é de que podemos esperar coisas eXcelentes desta série.
É também interessante, e talvez não coincidência, a estreia quase ao mesmo tempo de outra equipa da Marvel, os Inhumans. O mundo geek, assim como o próprio público no geral, divide-se em dois com a eterna competição entre Mutantes vs. Inhumanos. Apesar das muitas semelhanças entre os dois grupos, muitas são também as diferenças que separam e por vezes até os fazem chocar. Têm algum lado favorito?
Enquanto as minhas expectativas eram elevadas para Inhumans, para The Gifted estas eram um pouco baixas, no entanto saiu-me o tiro pela culatra. Apesar de uma das séries ter tido estreia no cinema, a verdade é que a outra é que mostrou ter uma qualidade ao nível do grande ecrã. (Apesar disso, aconselho a verem na mesma o piloto de Inhumans e a ler a review aqui).
Uma das grandes razões por que já se esperava o sucesso deste primeiro episódio baseia-se simplesmente pelo facto de ter sido realizado pelo “pai” do recente universo de X-Men no ecrã, Bryan Singer. O escritor da série também não será desconhecido de muita gente, sendo Matt Nix conhecido pela sua participação em Burn Notice (2007-2013).
Quanto às estrelas que dão vida às personagens são muitas e parece que foram escolhidas a dedo, assentando na sua maioria como uma luva aos papéis para que foram escolhidos. Na família Strucker temos: Stephen Moyer como Reed Strucker, Amy Acker como Kate, Natalie Alyn Lind como Lauren e Percy Hynes White como Andy; e na resistência mutante temos: Emma Dumont como Polaris, Jamie Chung como Blink, Sean Teale como Eclipse e Blair Redford como Thunderbird.
A história base é bastante simples, direta e eficaz. Nalgum evento misterioso tanto os X-Men como a Brotherhood of Mutants desapareceram deixando indefesos e sem guias todos os outros mutantes que, mais do que nunca, precisam do apoio de alguém, uma vez que, no mesmo evento ou noutro posterior, a sociedade se virou completamente contra os mutantes e estes são perseguidos e presos sem piedade nem humanidade. No seio da família Strucker, Reed é um promotor público responsável pela prisão de dezenas de mutantes sem pensar duas vezes e Kate, a sua mulher, parece apoiá-lo nesta discriminação de um grupo social apenas pela sua diferença. Lauren e Andy Strucker são os adolescentes da família que, inicialmente, não parecem ter mais do que os problemas normais da adolescência com que se preocuparem até a verdade nos seus genes ser revelada e mostrar que estes possuem o gene X, o que significa que são mutantes. A vida dos Strucker vai assim chocar com a vida do grupo de resistência mutante, fundada por Polaris, que tendo sido presa por Strucker a salvar Blink, também está a necessitar de salvamento, que será usado como moeda de troca por Eclipse para pagar a retirada da família Strucker do país. No final acabam todos (Strucker e a resistência) por ser perseguidos pelos Sentinel Services, os infames caçadores de mutantes que, na maioria das vezes, fazem desaparecer as suas vítimas como se nunca tivessem existido. No final ficamos com uma sensação de que esta história pode de certa forma funcionar como uma prequela para aquilo que vimos acontecer em X-Men: Days of Future Past. Iremos em algum ponto ver o cruzamento com as personagens dos filmes ou até mesmo com Legion? Ainda é cedo para dizer, pois, como sempre, tudo dependerá primeiro do sucesso ou não da série.
Se os filmes se focam mais nas big guns e, com isso isso quero dizer nos mutantes mais famosos, por outro lado, com a abordagem das séries televisivas, ficamos a conhecer não só personagens que costumam permanecer mais em segundo plano como também temos a oportunidade de viver a história de outra perspetiva. Porém, sem os disfarces, muitas destas personagens podem passar-nos ao lado e nem nos apercebermos que já as tínhamos conhecido antes. Passemos assim às apresentações:
– os Strucker: se o nome não soar estranho é normal. A família Strucker já antes fez a sua estreia, primeiro em Avengers: Age of Ultron com Baron Von Strucker e depois em Agents of S.H.I.E.L.D. com um dos filhos de Baron, Werner. Resta saber se haverá alguma ligação entre os Strucker em The Gifted e a família Strucker a que estamos habituados dos comics. Pode ser que vejamos o passado negro desta família a ser explorado e que nos sejam apresentados os outros herdeiros da família Strucker, que fazem em muito lembrar Cersei e Jaime de Game of Thrones. Um dos pontos fortes do piloto é a rapidez com que nos consegue despertar sentimentos, nomeadamente de desprezo pelas crenças pouco saudáveis dos pais Strucker. Mais surpreendente é como os produtores fazem esses sentimentos evoluir para empatia à medida que o episódio prossegue. Outro aspeto interessante é a comparação que podemos fazer entre Lauren Strucker e Claire Bennet de Heroes. As duas são parecidas não só a nível físico, mas também aparentam ter uma determinação e importância para a história parecidas. Uma vez que Claire se mostrou ser uma das personagens mais interessantes em Heroes, agora é esperar que o mesmo aconteça com Lauren. Algo que o piloto também parece indicar é a forma como os super-poderes serão abordados. Vemos os efeitos especiais não só a serem suaves como a também se focarem nalguns pormenores da mecânica do seu funcionamento e pelo diálogo entre os irmãos Strucker quando estão à frente da máquina de snacks, tudo aponta para que os produtores vão aprofundar o modo como as personagens lidam e evoluem os seus poderes, não ficando apenas pelo “fogo-de-artifício” de se ter habilidades especiais.
– Polaris: quem é que não adora Magneto? E quem é que não adora os filhos de Magneto, especialmente a versão de Quicksilver dos filmes dos X-Men? E se vos disser que, nos comics, Polaris é meia-irmã da Scarlet Wicth e de Quicksilver? Agora se calhar os poderes dela até já fazem mais sentido, assim como a sua prisão de plástico. Se os produtores decidirão abordar que Polaris é filha de Magneto ou se preferirão manter-se afastados de complicações é algo que teremos de esperar para ver.
– Blink: as semelhanças de The Gifted e Days of Future Past são muitas, mostrando que Singer aproveitou muitos elementos do filme da saga com maior sucesso. Apesar de a sua aparência ter sido ligeiramente alterada, Blink entra em Days of Future Past, onde teve um papel essencial. Blink possui poderes mutantes de teletransporte, mas, ao contrário de Nightcrawler, estes funcionam mais como a famosa arma dos jogos Portal. Já Eclipse (Sean Teale) partilha poderes muito semelhantes aos de Sunspot (Adan Canto), que também aparece em Days of Future Past.
– Sentinels: as Sentinelas são uma das maiores ameaças aos mutantes, tal como vemos no filme Days of Future Past. Nas suas versões mais evoluídas nem os mutantes mais poderosos conseguem ter muito efeito contra eles. Neste piloto somos introduzidos não só aos Sentinel Services, uma agência federal com autorização para usarem os meios que acharem necessários para prenderem mutantes, como a uma das armas usadas por eles – uns robôs em forma de aranha, que serão os precursores dos verdadeiros Sentinels.
– outros easter eggs: o mítico tom da série animada dos X-Men começa a tocar na nossa cabeça só pela sua menção e ouvi-lo como toque de telemóvel de Eclipse foi muito porreiro. No entanto, nada bate as aparições de Stan Lee, um dos homens que temos de agradecer pela existência da Marvel, que torna qualquer projeto da Marvel muito mais fidedigno. Desta vez pudemos vê-lo quando Reed está a entrar no bar para se encontrar com Eclipse. A prisão de plástico onde colocaram Polaris também é facilmente comparável à prisão de Magneto em X-Men 2. E vocês, notaram mais algum easter egg?
A qualidade cinematográfica e das performances dos atores elevam a qualidade da série, o que em conjunto com um argumento sólido, focado e diverso nos prende à história antes dos 45min do piloto acabarem. Apesar de, ao contrário de Legion, a série não tentar trazer algo completamente diferente ao universo isso pode ser uma coisa boa, pois usa bem o conhecimento que o público já tem dos filmes e segue daí para um enredo mais clássico dos problemas e aventuras dos mutantes que decerto irão agradar a um grande número de pessoas. Podem acompanhar os episódios semanais na Fox, com o segundo episódio, “rX”, a estrear a 10 de outubro em Portugal. Uma das maiores desilusões da série deve-se ao curto número de episódios que, mantendo-se a qualidade, irão passar num instante e deixar muitas saudades.
Emanuel Candeias