A tempestade a que Michael Scofield se referiu no episódio anterior começou a adensar-se em The Liar, um episódio com bastante ação no interior e nos arredores de Ogygia – e até na América – e bem caótico para os irmãos, para quem tudo o que poderia correr mal, correu ainda pior.
Foi um episódio que levantou muitas novas dúvidas, mas também nos deu mais algumas pistas e detalhes até aqui ocultos. Começámos a perceber o que ocupou a vida de Scofield ao longo destes sete anos. Tem estado, ao que parece, ao serviço da CIA a infiltrar-se em prisões de alta segurança para arquitetar fugas e trazer consigo figuras de interesse. Ogygia é o seu alvo atual e o objetivo encomendado seria libertar Abu Ramal, impiedoso terrorista. Foi essa a missão que o tornou Kaniel Outis.
O dia focado neste episódio seria o da planeada fuga. E foi um dia bem complicado para Michael. Forçado a preservar a confiança de Abu Ramal, foi vendo as dúvidas dos seus parceiros de fuga acerca das suas reais motivações crescerem, inclusive Whip, fiel amigo e companheiro de missão nos últimos anos. Outra peça chave do seu plano, o jovem Sid, filho do responsável pelo controlo das luzes, vê a sua vida ameaçada pela opressão de Ramal faça à diferença e às minorias e Michael teve mesmo de intervir para salvar a sua vida, arriscando a sua boa relação com o líder terrorista. No fim de contas, Michael pretendia apenas incluir na fuga Sid, Whip e Ja, ou seja, parte do plano seria excluir Ramal. Um relógio de um guarda roubado no meio da confusão, e subtilmente colocado no bolso de Ramal, seria o instrumento que Michael julgou que concretizasse a sua vontade. Mas foi a origem do fiasco do plano. Uma vistoria às alas prisionais em busca do tal relógio a coincidir com o momento do desligar das luzes, deixou os guardas em alerta e proporcionou a um grupo grande de prisioneiros ir até à cela de Scofield, o ponto de partida para a fuga. Rapidamente os guardas lá chegaram também e a fuga terminou precocemente, com a agravante de ter permitido a vários “aliados” perceberem que Michael os trairia, tornando-se agora rivais, com Ramal no topo da lista dos que querem ver Scofield sem vida. E assim Michael está de volta à solitária e com a cabeça a prémio para quando sair de lá.
Daqui retiro uma grande questão: Michael entrou numa prisão para retirar de lá um criminoso e o seu plano incluía excluí-lo da fuga? Então qual o objetivo de tudo isto? Algo aqui ainda faz sentido, o que não quer dizer que não venha a fazer quando percebermos afinal qual o papel que Ramal tinha a cumprir no esquema de Scofield ou se este terá sido manipulado e forçado a embarcar nesta missão. E se me permitem uma reflexão retrospetiva: a Season 1 ofereceu-nos uma fuga que envolveu cavar um túnel, demolir paredes com uma batedeira, ganhar a confiança do chefe da prisão e da médica, tingir fardas prisionais, fazer-se passar por guarda, fazer um guarda prisioneiro, arrombar grades com recurso a um elevador, trepar um cabo suspenso, entre muitas outras artimanhas, e agora removiam um azulejo, subiam para um telhado, apagavam as luzes e corriam? Demasiado simplista para o pormenor a que nos habituaram. Por isso fez sentido o fracasso, porque o sucesso será com certeza grandioso, engenhoso e genial.
Como o próprio Michael disse, a fuga da prisão seria só o início, faltava depois sair do país, num estado crescente de guerra. Cabia a Lincoln começar a trabalhar nesse sentido, arranjando passaportes falsificados. Estando C-Note encarregue de ajudar o “Xeique da Luz” e deixar a prisão nas sombras, Lincoln viu-se sozinho com Sheba na sua tarefa. E, tal como a de Michael, foi bem acidentada: foram emboscados, agredidos, encarcerados e o cenário só virou quando a força bruta de Burrows veio ao de cima, conseguindo libertar-se, distribuir “fruta” à descrição, salvando Sheba, que ficou em mau estado.
Nos Estados Unidos, Sara é perseguida pela dupla que já tinha surgido no piloto. Até ao momento, se compararmos com a força que Kellerman, Mahone, Kim e outros agentes da “Companhia” tiveram a desempenhar papéis semelhantes, estes parecem muito aquém, mas serviram para vermos Sara desenvolver um pouco. Ficámos também a conhecer o pseudónimo da possível “cabeça do polvo”, um tal de Poseidon, que é simultaneamente o chefe dos homens que perseguem Sara, mas também o responsável por Scofield e Whip estarem nesta missão em Ogygia. E onde entra Kellerman no meio disto tudo? Será ele o Poseidon? Difícil de saber para já, mas não desesperem, pois Sara já pôs T-Bag a investigar o assunto.
O episódio termina com a prova de que quem se lembra de Michael não precisava, mas que serve de confirmação para quem estava na dúvida. Kaniel Outis não passa de uma personalidade que Michael foi forçado a assumir nesta missão, mas o verdadeiro Scofield e os seus valores estão bem presentes na sua cabeça e, agora que teme pela sua vida, faz um vídeo de coração nas mãos, declarando o seu amor a Sara e pedindo que, se perder a luta, na sua lápide seja gravado o nome do qual se orgulha: Michael Scofield.
André Borrego