[Contém Spoilers]
As séries são especiais quando nos dizem alguma coisa, quando despertam emoções, quando nos fazem arrepiar, quando nos identificamos com a mensagem que tentam transmitir. This is Us fez isso em cada um dos 18 episódios que compuseram esta 1.ª temporada, que foi simplesmente soberba. Uma agradável surpresa, sem dúvida. Para terem uma noção de que This is Us pode ser mesmo para todos os públicos, as minhas 5 séries favoritas antes de ver This is Us eram Sons of Anarchy, Prison Break, Breaking Bad, Game of Thrones e Shameless. Todas de um género totalmente diferente. Mas decidi dar oportunidade à novata This is Us. E un episódio foi quanto bastou para conquistar e hoje estará algures no meu Top5.
This is Us poderia cair no cliché de uma Season Finale apoteótica com drama de nível surreal. Mas até aí marcou pela diferença e com um episódio que poderia ser um excelente episódio de meio de temporada, e não o digo com tom depreciativo. A simplicidade pautou o ritmo deste episódio que se focou essencialmente em Jack e Rebecca, deambulando entre o 1.º dia de tournée e o dia em que se conheceram, não deixando os três irmãos totalmente de fora que, com uma fugaz aparição, deixaram, cada um, mensagens e decisões com grande impacto para a próxima temporada.
Na viagem à juventude de Jack e Rebecca conhecemos os primórdios do sonho dela, numa fase que cantava em bares, ambicionando por uma carreira musical, e conhecemos a origem dos problemas de Jack com a bebida e um período onde lutava pela sua independência.
Jack vivia no sótão dos pais, ganhava algum com pequenos biscates, mas não era o suficiente para ganhar a sua autonomia e deixar de depender do seu pai, que maltratava a mãe e que fazia da bebida a sua companheira diária. E Jack herdou alguma dessa atração pela bebida, particularmente ativada depois de saber que a mulher iria em tournée com um ex-namorado. Rebecca vivia uma fase de dedicação ao seu sonho musical, no qual não queria pensar em amor e namorados. Mas na noite em que decidiu ir à procura desse amor, encontrou-o onde menos esperava.
Jack, farto de depender do pai, começou a considerar vias menos legais e estaria prestes a seguir um rumo sombrio, arrastando um amigo de juventude que vivia em condições semelhantes. Felizmente, na noite em que faria o seu primeiro assalto o alvo seria um bar onde Rebecca estava a cantar e roubou toda a sua atenção. De repente, ali estava Rebecca a cantar ‘Moonshadow’ (música que dá nome ao episódio), com o seu ar angelical e foi a luz no percurso sombrio de Jack e o resultado dos anos futuros, a que assistimos, falam por si. Jack tornou-se um homem novo, renovado, positivo, altruísta, um excelente pai e marido, e Rebecca terá tido um papel preponderante nessa mudança, pois este par é uma verdadeira equipa e ambos precisam um do outro para trazer o melhor de si ao de cima.
No momento da tournée, o episódio levou-nos de volta até à viagem que nos tinha dado a entender que teria um fim trágico para Jack, mas o pai Pearson ainda se safou desta. Era óbvio demais, se pensarmos bem, e o episódio da morte de Jack estará mais para um series finale do que para uma temporada de abertura. Com bastante sorte, o embriago Jack lá conseguiu chegar são e salvo ao bar onde Rebecca iria actuar. Mas o álcool não deixou de causar marca nessa noite. Depois de Ben tentar beixar Rebecca, esta já só pensava em ir embora e abandonar esta aventura, mas um desencontro momentâneo com o marido leva a que Ben e Jack se cruzem primeiro. O álcool falou mais alto e após ouvir Ben dizer que “se esticou” com Rebecca, ficou em brasa e enfiou um murro valente na cara de Ben (estava bem a pedi-las), e aquela cara ficaria bem mal tratada não fosse Rebecca intervir. Não foi o reencontro que esperávamos, mas foi o necessário para trazer à tona muitos sentimentos oprimidos. A discussão entre o casal, já em casa, é brilhante (aposto que terá sido divertidíssima de gravar) e no meio de algumas injustiças que se disseram no meio da tensão e irritação do momento, e que os levou a acordarem de consciência pesada, foram ditas bastantes verdades com destaque para os sacrifícios que cada um fez e a pergunta chave a que Jack não conseguiu dar resposta: Porque é que ele amava Rebecca? Mesmo ao fim de tantos anos, um amor como o destes dois merece uma boa resposta a essa pergunta. E essa resposta chegou na manhã seguinte, com todo o esplendor e glória que a pergunta pedia, todo o romance, toda a paixão colocados em cada palavra daquela declaração que deixou Rebecca em lágrimas (de emoção) no momento da partida de Jack para a casa de Miguel, para dar um tempo à relação. Neste momento, sempre que os vejo separarem-se fico com a sensação de que será a última vez que se verão, mas quem sabe se a série não nos torna a surpreender nesse aspecto.
E fechamos com chave de ouro, com as promessas que nos deixam a pensar e ansiar pela próxima temporada: Kate quer seguir uma vida a cantar, tal como era o sonho da sua mãe; Kevin vai atrás do papel que pode mudar a sua carreira de actor e Randall quer adotar uma criança.
Jack encabeçou um rol de personagens que foram extraordinárias ao longo desta temporada. Rebecca, Randall, Kevin, Kate, William, Beth, Toby, todos foram inspiradores à sua maneira, todos conseguiram arrancar genuínas emoções dos fãs. Ver This is Us é um exercício lúdico extremamente prazenteiro, mas ao mesmo tempo é um ensinamento de vida e das relações que a tornam humana e especial. Ao fim de 18 episódios sinto-me parte da família Pearson. Com certeza muitos fãs sentirão o mesmo e já estamos com saudades deles. Voltem rápido!
André Borrego