Quando falamos em ficção nacional a nossa mente automaticamente leva-nos para aquelas novelas que preenchem as noites da TVI e da SIC. A verdadeira “história da carochinha”, em que um casal supera obstáculos todos os dias para no fim viverem o “felizes para sempre”. Nos últimos anos tivemos algumas inovações: o vilão como protagonista, o casal principal altera-se ou acaba separado, a história muda totalmente de rumo e foco, etc. Mas terá sido isto a resposta para ressuscitar o interesse das pessoas nos produtos nacionais?
A resposta é muito simples: não! O motivo? A falta de fé dos portugueses na nossa ficção! Além de que ninguém tem pachorra para estar todos os dias, durante quatro ou cinco meses, a consumir uma hora e meia da mesma treta!
A minha meditação relativamente a este assunto surgiu no início do ano quando na RTP1 estreou Ministério do Tempo, uma adaptação de um original espanhol que é, na minha mais sincera e humilde opinião, um dos melhores programas na televisão portuguesa da última década! Durante o primeiro episódio previ imediatamente os comentários e críticas que seriam feitos e não fiquei muito longe daquilo que aconteceu: inúmeras acusações de um fraco plágio a Timeless a ressoar pelas redes sociais… Ah, pobre gente mal informada de dedos compridos! O programa, cá transmitido pelo AXN, estreou bastante tempo depois de El Ministerio del Tiempo, a criação de nuestros hermanos. Quem terá plagiado quem? Mas como tudo o que vem do outro lado do Atlântico é sempre melhor, deixemos o resto morrer.
Claro que não podemos de forma alguma comparar a qualidade de uma produção portuguesa a uma norte americana. Para começar, os orçamentos em Hollywood excedem em milhares (milhões) os das produtoras nacionais e, obviamente, isto irá influenciar todo o trabalho, quer seja nos cenários, elenco, figurinos, etc.
Em segundo lugar, a tecnologia. Os efeitos especiais e os seus técnicos, além de caros, são raros no nosso país e nada se compara com a acessibilidade que existe noutros países, especialmente nos EUA. Mas de que serve investir? As nossas produções serão sempre inferiores e desvalorizadas, por isso não vamos gastar dinheiro, logo não vamos evoluir, logo não vale a pena investir… Ah! Maldito ciclo vicioso! Continuemos a ser o país das telenovelas que nos derretem o cérebro noite após noite durante quase meio ano. E ainda uma está a um mês do final, estreia logo outra que é para não se perder audiências! (E ainda me perguntam porque é que não vejo televisão!)
Mas continuando…
Em terceiro lugar: os atores. Como chegar ao mundo da representação em Portugal? Aqui segue o guia completo: ter 1.85m, ser uma cara bonita e estar associado a uma agência de modelos ou ser filho de uma celebridade. Tudo muito fácil! Talento? Formação? O que é isso? Tal nunca se ouviu nos corredores das nossas produções nacionais!
(Outro dia espreitei, por curiosidade, a nova novela da TVI, Ouro Verde. Quase morri de riso a ver o Diogo Morgado a representar ao lado de atores que surgiram do nada e da sorte… Vénias para ele e palmas para quem acha que faz boa figura ao seu lado, porque sinceramente poucos ou nenhuns têm categoria para fazer uma cena com ele!)
Claro que em Portugal temos muitos gigantes da representação! Alguns deles ainda jovens, mas que já são verdadeiros talentos que dão gosto de ver! Outros já são caras bem conhecidas há várias décadas, mas que ainda não perderam a magia!
Em último lugar, os portugueses! Os verdadeiros culpados de funeral que se faz todos os dias, menos aos domingos, porque temos de dar lugar aos reality shows (mas não vamos entrar por aí, porque a conversa durava décadas)! E porque são eles os arguidos deste caso? Simples! A velha história do conformismo, da constante crítica e da insatisfação dos portugueses… Os mais velhos poucas oportunidades dão ao que vem de novo e surpreendente, os mais novos acostumaram-se aos downloads na internet das séries estrangeiras e retiram o valor do que é nosso.
O meu amor e paixão por Ministério do Tempo é bem conhecido e espero que nós, os poucos e muitos fãs, sejam o suficiente para manter acesa esta pequena chama de esperança por uma ficção nacional melhor. A segunda temporada já conseguimos, lutarei por uma terceira e por uma quarta. Depois de ti, outras virão e poderá ser que, com toda a esperança e pujança, seja possível continuar a inovar no nosso país!
Por isso, ficção nacional, de ti me despeço. A tua morte é iminente. A maioria dos portugueses não luta por ti e os poucos que lutam são dizimados. De que me adianta a mim apoiar o que é novo, se é espezinhado? De que me adianta a mim querer, se não consigo receber? Melhores dias virão, uns irão erguer-se, outros cair e quem sabe se serão como uma fénix e renascerão das cinzas? (Sê bem-vindo de volta, Inspetor Max!) . Descansa em paz, minha querida ficção nacional. O sono do guerreiro merece ser profundo.
Beatriz Pinto