Welcome to the Madhouse!
Welcome to the Madhouse! (isto foi repetido de propósito, acho eu??)
No que muitos designam da Era Dourada dos super-heróis no grande e pequeno ecrã, opiniões dividem-se quando algo novo sai sobre o assunto entre: “oh não, mais uma cena de pessoas vestidas com latex à pancada” e “wow, estou tão contente por estar vivo nesta brilhante altura!” Seja qual for o lado em que se encontram vale a pena espreitar este piloto de Legion.
A série decerto não irá agradar a todos, pois é única e muito diferente. Uma viagem só de ida para o manicómio. No entanto, é por isso mesmo que se consegue destacar e parece que veio conquistar o seu lugar no mundo das adaptações de super-heróis das comics. É completamente distinta do material que nos é dado nos filmes alegres do Universo da Marvel (MCU), dos mais negros do universo da DC (DCEU), da ação e drama da CW ou mesmo das colaborações da Marvel/Netflix com um tom mais urbano e realista. Podemos associar a série a filmes como Voando sob um Ninho de Cucos (1975), 12 Macacos (1995) e também Clube de Combate (1999). De certa forma fez-me ainda lembrar Luke Cage (2016), no sentido que tratam da vida de pessoas normais que por acaso têm super-poderes, não sendo, no entanto, esse o principal foco. Dum lado temos a vida em Harlem no centro e neste caso temos a doença mental.
De realçar também, que apesar de ser produzida pela FX e ser uma série sobre mutantes e baseada nos comics da Marvel, não há qualquer ligação com os filmes do franchise de X-Men produzidos pela 20th Century Fox. David Haller, o protagonista da série, existe no seu próprio universo, aparte de toda a confusa linha temporal dos filmes dos X-Men. Pelo menos por enquanto…
Legion aka David Charles Haller foi criado pelo escritor Chris Claremont e pelo artista Bill Sienkiewicz, tendo a sua primeira aparição em New Mutants #25 (1985). Uma rápida procura na internet dar-vos-á uma data de informações sobre a personagem, nomeadamente que é um dos mutantes mais poderosos da existência, com um nível de poder Omega (recordam-se de Jean Grey? Com poderes capazes de destruir o mundo? Legion está na mesma categoria). Porém, o rumo que a série parece tomar neste piloto questiona se muitos desses factos serão abordados ou não. Ou seja, a série parece querer distanciar-se daquilo a que estamos habituados nos filmes X-Men e não ser de todo uma série paralela como acontece por exemplo com Agents of SHIELD. E nessa instância, ao fazer-nos seguir a história segundo a perspetiva confusa de David, indica-nos que irá tomar o seu tempo para se estabelecer e que as regras serão criadas por eles. Não vale a pena suster a respiração à espera de revelações ou referências bombásticas.
Quanto à série Legion, deve a sua criação a Noah Hawley (Fargo, Bones) e, claro, ao extraordinário Stan Lee. Irá contar com 8 episódios e entre as suas estrelas podemos contar com: Dan Stevens (Downton Abbey) como David Haller (lembrem-se do nome do ator, porque se a série conquistar a atenção do público decerto que o veremos ser nomeado para diversos prémios pela sua excelente interpretação), Rachel Keller (Fargo) como Syd Barrett e Jean Smart (Fargo) como Melanie Bird.
Durante uma hora seguimos a vida de David Haller, da infância à idade adulta “Happy Jack” dos The Who’s acompanham o seu crescimento e a nós é-nos mostrada a transformação de um bebé sorridente para um adolescente rebelde e perturbado. David é diagnosticado com esquizofrenia e durante anos luta com a doença mental, mas ao parar de tomar os medicamentos as vozes que o atormentam tornam-se demasiado fortes e ele tenta-se suicidar. É então que acaba no Hospital Psiquiátrico Clockworks onde mesmo medicado as visões e vozes não param completamente. Mas serão elas reais? Serão produtos da sua mente ou resultados dos poderes telepáticos? E o demónio de olhos amarelos? Raios, não sei quem é, mas arrepia-me todo!
“She comes in colors ev’rywhere; She combs her hair; She’s like a rainbow”.
Ao som de Rolling Stones, apresento-vos Pink Floyd! Wait, what? Syd Barrett, a bela paciente que David conhece e por quem rapidamente se enamora é outro grande mistério. Uma rapariga que não gosta que lhe toquem, mas que rapidamente aceita ser namorada de David. E não vos pareceu que ela levitou quando entrou no quarto de David?! Não se viram pés!!
Na New York Comic-Con de 2016, o produtor executivo Noah Hawley contou que reunido com o compositor Jeff Russo lhe pediu para a banda sonora de Legion invocar o álbum “Dark Side of the Moon” dos Pink Floyd. Quanto a Syd Barrett, é uma homenagem ao membro fundador da banda, falecido em 2006.
David tentou-se suicidar, David foi parar ao manicómio, David tem uma irmã, David é um mutante… Estas são das poucas certezas que o piloto nos apresenta, tudo o resto é um carrossel cinematográfico de cores psicadélicas e sonhos estranhos, é uma verdadeira “paisagem sonora da doença mental em algum grau”. Não há descrição que vos possa dar que faça jus a este piloto, é mesmo uma situação de ver para acreditar e para experimentar. E sejam persistentes e não desistam, vejam até ao fim. Entre a perseguição pelo governo (talvez) e o resgate por outros mutantes há elementos suficientes para dar uma certa coesão, não permitindo que nos percamos completamente.
Legion é uma experiência televisiva obrigatória para os aventureiros. Dan Stevens representa um papel impressionante, a banda sonora e a realização são inacreditáveis e o argumento é único. Prende-se uma nota importante neste caso, pois no enredo seguimos a visão de David, que é completamente confusa. Espero, no entanto, que à medida que ele se vá apercebendo da realidade também a história fique mais clara e um pouco linear, senão os produtores correm o risco de alienar o público em geral. Como crítica negativa tenho a apontar a cena de ação final em que nem a realização nem os atores pareciam estar muito à vontade.
“É isto real?” pergunta-nos a Fox, e é sobre isso que nos indagamos durante todo o episódio e acabamos a pensar que não sabemos nada ou sabemos muito pouco. Lembrará a muitos uma viagem sob o efeito de cogumelos mágicos. Legion estreia em Portugal dia 13 de fevereiro às 21h. Apontem na agenda e não percam.
Emanuel Candeias