Os Baudelaires são três adoráveis crianças que mal sabem o que o seu destino lhes reserva. Inteligentes e humildes, ainda que pertencentes a uma família endinheirada, os jovens irão enfrentar o maior desafio das suas vidas. Durante uma ida à praia, eles descobrem que os seus pais morreram num incêndio que dizimou a sua mansão e terão que ser realojados. O Sr. Poe, responsável do banco, acolhe-os durante uma noite e anuncia que os seus recentemente falecidos pais haviam deixado uma fortuna. Fortuna esta que só poderá ser reclamada assim que Violet (a mais velha dos Baudelaires) atinja a maturidade. Nisto, os órfãos são levados para a casa do seu parente mais próximo: o temível Conde Olaf que, como cereja no topo do bolo, é execrável para as crianças.
Depois de um filme divertido em 2004, Lemony Snicket volta a brilhar com esta nova adaptação das suas obras literárias. Brilhou tanto que até teve direito a ser o narrador da sua própria história… com um twist… é um narrador presencial e que nos vai acompanhando à medida que a história se desenvolve. Barry Sonnenfeld fora o responsável pelo filme de 2004 e regressa agora com toda a sua força. Há um carinho enorme por esta história vindo do próprio realizador. Sonnenfeld enche o ecrã com peculiaridades maravilhosas e substitui Jim Carrey por um ainda-mais-lunático Neil Patrick Harris como Conde Olaf.
O primeiro episódio é caracteristicamente equilibrado, com as doses certas de humor irónico e drama subtil. Uma ode à imaginação e aos percalços da vida contados em tom sarcástico porque, verdade seja dita, a própria vida é sarcástica. As adoráveis crianças são também um dos pontos mais fortes do episódio; a sua doçura e humildade agarram-nos desde o primeiro momento. Ainda que a narrativa seja idêntica ao filme em que se baseou, Sonnenfeld corrige todas as falhas que condenaram o mesmo à mediocridade e, com o auxílio da própria conduta de Neil Patrick Harris como ator, o resultado é estupendo.
A musicalidade e irreverência característica de Harris ajudam o episódio a atingir o patamar que o filme não conseguiu. O formato televisivo ajuda A Series of Unfortunate Events a ser literalmente “uma série de acontecimentos infelizes”, proporcionando um serão – ironicamente – muito agradável para ver em família. Há carisma, emoção, talento e um Conde Olaf que é tão genuíno como o ator que lhe dá vida.
A Series of Unfortunate Events é um conto de crianças para adultos. Uma parábola que reflete sobre valores importantes e que deve ser vista e revista por todas as gerações. E, se ainda só vamos no primeiro episódio, o que nos esperará a seguir?
É fácil: Netflix and chill.
Jorge Lestre