Para se entender a ilusão de Elliot, “init 5” começa precisamente por revelar a realidade dos mistérios que conduziram o nosso herói à prisão, desmascarando os intervenientes da até então rebuscada história. Enquanto vemos a realidade de Elliot, as coisas não estão fáceis para a Evil Corp e para o Dark Army, que vêm as suas alianças cada vez mais fragilizadas com o avanço da fsociety. Apanhada no fogo cruzado está Angela, cuja consciência tem estado pesada desde que contribuiu para o hacking da sua empresa. Mas algo se está a passar entre Elliot e Mr. Robot. A sua ligação parece estar débil e instável. O que estará para vir?
Mais uma vez, Mr. Robot prova que é uma série inteligente e que sabe trabalhar com qualidade as suas pontas soltas. Colocando de parte as facetas das personagens, – algo que esteve em destaque em quase todos os capítulos anteriores da temporada – a narrativa consegue voltar ao seu rumo e permitindo que as relações de Elliot com Darlene e a missão da fsociety ganhem nova injeção de energia. O intimismo da narração direta com o espectador continua a testar o virtuosismo da série que, desta vez, coloca em causa o conceito de “normalidade”.
Um dos trunfos do episódio recai precisamente na contextualização ambígua do Dark Army. Qual é o seu objetivo? O que faz entrelaçar os interesses da fsociety com os seus? O nosso querido Elliot é um excelente protagonista, mas já sabemos de “ginjeira” que ele não é propriamente uma pessoa lúcida. Nada é propriamente claro na mente da personagem e isso arrasta consigo os próprios twists narrativos. A dinâmica das personagens continua magnífica e Mr. Robot permanece num registo de televisão obrigatório e de referência.
Outra questão interessante do ponto de vista cinematográfico é o flashback de Elliot na prisão e na forma como os elementos se conjugam com a sua fantasia. Claro que a temporada ainda não acabou e mal posso esperar para regressar a esta psicose profunda que tem tanto de misteriosa quanto de bela. Bela porque Mr. Robot é um festim visual. Tem tudo no sítio, deixa-nos a refletir e não nos poupa a uns quantos momentos de tensão.
Jorge Lestre