Sam Esmail é um brincalhão das imagens e das palavras. Um mensageiro que utiliza o veículo televisivo para expor aquilo que de mais fraudulento ocorre na sociedade do século XXI. Este senhor (em quem recai todo o talento e qualidade de Mr. Robot) continua a procurar na sua vasta amplitude moralística por formas de enriquecimento da narrativa de Elliot Alderson. Após receber o telefonema de Tyrell, Elliot mergulha ainda mais na sua loucura, procurando encontrar um pouco de tranquilidade das investidas do seu alter-ego. Ficamos a conhecer também um pouco das origens da fsociety e no enquadramento de algumas das personagens secundárias, ao mesmo tempo que vemos Darlene e companhia a engendrarem um novo plano. Remo é encontrado morto em sua casa e a detetive Dominique DePiero está no encalço do acontecimento.
Cada vez mais Mr. Robot se afunda na temática metafísica delineada pelas interpretações perfeitas dos seus atores e aproximando-se cinematograficamente de Fight Club. Ao utilizar estes recursos, a série continua a ser um caso de estudo cada vez mais empolgante da psique humana e dos limites da loucura. O jogo oscilante entre policial e drama profundo define um carisma único de uma das séries mais importantes dos tempos que correm. Os planos, a fotografia, as performances, a banda sonora, tudo parece estar no sítio certo sem se tornar demasiado pretensioso ou soar como uma cópia da obra de culto de David Fincher. Mr. Robot tem o seu encanto próprio; uma génese altruísta que se define através do intelecto de uma única personagem capaz de nos provocar os sentimentos mais adversos. A sabedoria de Elliot não é uma vulgar. Não é uma sabedoria popular nem literária. É simplesmente uma sabedoria atual.
A importância desta sabedoria na escrita de Esmail faz-nos refletir sobre nós próprios, na nossa posição/lugar na sociedade e na forma como esta sociedade nos “aceita”. A filosofia é tão densa e tão vívida que se torna essencial para a compreensão da sociedade moderna na sua generalidade. Este herói com graves problemas mentais é capaz de resumir tudo o que afeta o nosso meio através de devaneios de loucura. Esta proeza é única em televisão e “Kernel Panic” é um exercício de reflexão sobre os nossos próprios “erros internos”.
A exploração da loucura de Elliot torna-se ainda mais intensa porque ele é o nosso foco de atenção. Os moralismos aliam-se às olheiras carregadas pelas noites sem dormir, pelo excesso de drogas que o fazem abstrair do seu maior medo, da evasão de si próprio e do que o rodeia para tentar estar, minimamente, normal. Ficar a conhecer as novas personagens mostra-se um trunfo interessante e que vai sendo gradual, o que nos agarra ainda mais à narrativa, não fossem Craig Robinson e Grace Gummer verdadeiros artistas da 7.ª arte. Em resumo, “Kernel Panic” é provavelmente um dos melhores capítulos de Mr. Robot e que continua a desenvolver as suas magníficas personagens e a explorar os defeitos da nossa sociedade com classe e muita dose de loucura à mistura.
É caso para dizer: BRAVO!
Jorge Lestre