Conheçam Jonathan Pine, um gerente de hotel na capital egípcia. Pine trabalha apenas durante a noite e, em plena primavera árabe, conhece Sophie Alekan, uma elegante mulher, amante de um traficante de armas. Ao envolver-se com esta sedutora, Pine depressa se vê envolto num universo criminal onde o magnata Richard Roper impera. Assim, Pine precisa de decidir se a sua conduta moral o leva a tornar-se um espião para o Governo Britânico.
Baseada no romance de John Le Carré, The Night Manager é uma aposta extraordinária de televisão que conta com os talentos icónicos de Tom Hiddleston, Hugh Laurie, David Farr e Susanne Bier. Tom Hiddleston escapa do cinema para dar vida a esta personagem totalmente James Bondiana e Laurie regressa “à sua praia”, num registo de vilão como até então nunca tínhamos visto. Farr assina o argumento e o seu trabalho vai buscar essencialmente o melhor que o cinema de espionagem tem para oferecer, enquanto a realizadora Bier torna a filmagem intimista nublada por um clima de desconfiança e elegância.
Este confronto de titãs da 7.ª Arte para a nova aposta da BBC cria um novo arquétipo de espião para a televisão. Se Jason Bourne se esquivava com frequência dos seus perseguidores em cinema, já James Bond usava o seu charme para conquistar as femmes fatales e não tinha qualquer problema em se denunciar. Jonathan Pine junta o melhor de ambos. Embora não seja repentino o seu lugar na narrativa – só descobrimos a sua função quase no fim do episódio – o argumento e a filmagem de Bier tornam este novo herói num galã quotidiano frágil e de postura sensata. A profissão de gerente de hotel deixa Pine na sombra, longe da suspeita, completamente fora do radar dos criminosos que a inteligência britânica pretende colocar atrás das grades. Aliás, o olhar jovial de Hiddleston aumenta ainda mais a intensidade das sequências onde não há ação desmiolada nem segredos incrivelmente complexos. Há um desenvolvimento progressivo da história que é contada de forma simples. Há planos constantes de uma natureza em mudança, que acompanha os dilemas internos do protagonista. Há uma alternância frequente de climas: o quente e o frio, o sol e a neve. Tudo isto vem a enaltecer o protagonista, colocando Hiddleston numa posição de constante movimento. É incrível como a equipa transforma imagens numa espécie de poema.
Até os créditos iniciais são dignos de um Spectre ou de um Casino Royale. Há glamour, há intriga, há mistério, há sedução. O que Bond e Bourne fizeram no grande ecrã, Pine irá certamente conseguir no formato televisivo. E o impacto desta adaptação cliché (aqui, ser cliché, até se torna uma mais-valia) do romance de John Le Carré não seria o mesmo sem o imenso talento dos atores envolvidos, com claro destaque para Hiddleston, Laurie e Olivia Colman. Estou absolutamente rendido a este primeiro capítulo e estou impaciente para ver o próximo, onde espero que a narrativa mantenha a mesma qualidade.
Se gostam de espionagem, se gostam de uma boa história, se não querem perder a oportunidade de ver Tom Hiddleston num registo completamente diferente do habitual, se quiserem ver televisão no seu estado mais puro, então não percam tempo: The Night Manager é aquilo que vocês precisam!
Jorge Lestre