A nova aposta de Kurt Sutter, criador da aclamada série Sons of Anarchy, consiste na história de Wilkin Brattle, um guerreiro do século XIV que combate a favor do Rei Eduardo de Inglaterra contra os escoceses. Quando está às portas da morte, Wilkin é visitado por uma entidade divina que lhe diz para largar a espada em batalha porque ele iria encarnar a vida de um outro homem num futuro próximo. Localizada a norte do País de Gales, durante uma época de tirania e rebelião, Wilkin terá que proteger a sua verdadeira identidade daqueles que chacinaram a sua família para servir este então destino misterioso como um carrasco. Guiado por Annora, uma curandeira aproximada de uma bruxa, e manipulado por Milus Corbett, um ministro com fortes aspirações em se tornar um líder, Wilkin terá de descobrir qual é o propósito de se submeter a esta vida que não é a sua e vingar a morte da sua família.
Como qualquer fã de Sons of Anarchy, quando se ouve o rumor de que Kurt Sutter está de volta à televisão, o entusiasmo aumenta e o comprometimento com o seu novo trabalho é quase que obrigatório. A sua nova obra é ambiciosa, sangrenta e profunda e tecnicamente um triunfo visual. Tal como o seu primeiro trabalho televisivo, Sutter adequa a figura de Wilkin Brattle (Leo Jones) à de Jackson Teller, uma personagem com um passado perturbado que terá de tomar decisões difíceis ao longo da sua jornada espiritual, e a linha de história vai buscar inspiração a outros sucessos como Vikings ou até mesmo Game of Thrones. A nível técnico, The Bastard Executioner é fiel o suficiente à fragilidade cénica do povo que retrata, bem como procura adornar aspetos históricos com a veracidade da violência da época em que se insere. Ele traz também Katey Sagal (sua esposa na vida real) que, depois de uma extraordinária prestação como Gemma Teller, encarna a ainda muito misteriosa Annora, uma espécie de bruxa que parece saber exatamente qual é o destino de Brattle ainda que o porquê e o para quê não tenham sido ainda revelados. O elenco é competente, assim que vemos Stephen Moyer (da série True Blood) regressar à televisão com uma malícia divertida e adequada à sua nova posição como vilão.
O maior problema desta estreia de Sutter é que a narrativa parece ter “bebido” da parte mais fraca de Sons of Anarchy que não só se desviou da sua rota inicial ao acompanhar Jackson e criar enredos secundários menos interessantes, como prolonga situações que teriam bem mais impacto se as duas horas de piloto se ficassem apenas por uma. Leo Jones é ainda um estreante e está a um longo caminho de ter o carisma de um herói de ação, mas parece ter sido uma boa escolha. Sagal, aqui, está presa a um papel que aparentemente não faz jus ao seu talento, visto que o seu tempo de antena foi reduzido a breves instantes em cenas particularmente estranhas e descontextualizadas com os momentos chave do episódio. A quantidade de personagens também não ajuda, uma vez que conhecemos indivíduos de segundo a segundo sem perceber ao certo qual é o seu relevo na narrativa nem no desenrolar dos acontecimentos. A própria escrita de Sutter é, por vezes, demasiado densa e complicada na medida em que se tenta esforçar para “empanturrar” o piloto com toda a informação e mais alguma sobre da temática que a série irá abordar, o que confunde o espectador em determinadas alturas. Mas, apesar de tudo isto, é na violência explícita, na polémica sexual e na incrível componente técnica que The Bastard Executioner triunfa. O forte capricho visual é como um pulmão que vai mantendo o nosso olho atento às batalhas sangrentas e vívidas que acabam por amainar a densidade argumentativa mesmo que sejam curtas.
A banda-sonora também parece estar limitada a breves minutos, ainda que a sequência de créditos pela voz de Ed Sheeran (que irá também aparecer na série) seja bastante interessante e irá certamente desenvolver-se como um dos pontos mais altos tal como sucedeu em Sons of Anarchy.
Apesar de tudo, The Bastard Executioner poderá desenvolver-se em algo bastante interessante assim que Sutter souber exatamente o que pretende com o avançar dos episódios e, mesmo tendo tido um piloto (looooongo piloto) aquém das expectativas, não significa que os restantes episódios sigam o mesmo rumo. E é bom que não para o bem de todos os seus fãs.
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