Provavelmente nunca ouviram falar de Rectify, mas não é por acaso que aparece em quase todas as listas de “séries que ninguém vê, mas devia ver”. Esta é a primeira série original do canal SundanceTV e conta com os mesmos produtores de Breaking Bad. Ray Mckinnon, o criador e argumentista da série, já ganhou um Óscar com uma curta-metragem em 2002, mas também é conhecido por trabalhos de representação em séries como Sons of Anarchy e Deadwood. A 1.ª temporada de Rectify estreou em 2013 e tem apenas seis episódios, a segunda tem dez, a terceira arrancou dia 9 de julho e já foi garantida uma quarta.
Vou então enumerar as 7 razões para ver Rectify:
1. O enredo
Rectify conta a história de Daniel Holden, condenado por violar e assassinar a sua namorada do secundário há 19 anos atrás. Contudo, após passar quase duas décadas no corredor da morte, Daniel é libertado quando novas provas de ADN o ilibam do crime. De regresso a casa, ele tem que se adaptar a novos membros da família e novas tecnologias que apareceram enquanto esteve preso. A ação desenrola-se numa pequena cidade da Georgia – daquelas onde toda a gente se conhece – e neste caso, os habitantes não ficam nada contentes com a libertação de um suposto assassino.
2. A família
Daniel depara-se com um meio familiar completamente diferente quando regressa a casa. Durante a estadia no corredor da morte, o seu pai faleceu, a sua mãe voltou a casar e teve um filho do novo marido, que agora é adolescente. O padrasto já tinha um filho, Teddy, aproximadamente da idade de Daniel, que juntamente com a mulher também se tornam membros novos da família. A mãe dele é uma mistura de dor e alegria. Daniel está de volta a casa, mas ninguém sabe realmente como agir com ele. A irmã mais nova, Amantha, tem uma relação muito próxima com Daniel, tendo dedicado grande parte da sua vida a tentar iliba-lo (até o namorado é o novo advogado do irmão). O pai de Daniel era dono de uma garagem de pneus, onde trabalhava o agora padrasto, que passou a gerir o negócio. Teddy também trabalha lá e achava que mais tarde seria ele a herdá-la. Com Daniel em liberdade, Teddy tem um certo ciúme e vê os seus planos estragados. O que ele não vê é que Daniel está longe de ter algum interesse na garagem. Outro facto que não ajuda nada a relação entre Daniel e Teddy é a mulher dele, Tawney ter uma afinidade fora do vulgar com Daniel.
3. Atores fantásticos
Apesar de nenhum ator principal ser bastante conhecido, não deixam de ser brilhantes. Começando no protagonista, Aden Young, que dá vida a Daniel Holden. Não o conhecia, mas fiquei encantada com ele. Ele é extraordinário e transmite-nos o que sente apenas com o olhar. Nós temos medo por ele, simpatizamos com ele, choramos com ele e no fundo não sabemos se ele realmente é culpado (nem ele próprio sabe). Abigail Spencer é uma força da natureza no papel de Amantha, a irmã super protetora de Daniel e quem lutou mais pela libertação do irmão, acreditando sempre que ele é inocente. Clayne Crawford interpreta Teddy, o meio-irmão ciumento de Daniel. Adelaine Clemens é a doce Tawney, a mulher de Teddy, que cria um laço forte com Daniel. Por fim, Johnny Ray Gill, interpreta Kerwin, o colega de cela de Daniel, que aparece nos flashbacks. No geral, todo o elenco trabalha tão bem em conjunto que parece que filmam a série há muitos anos.
4. A emoção
Esta é provavelmente a série mais emocional que vejo. Daniel agora é livre, mas não se livrou da solidão ou da suspeita que o persegue depois de 19 anos preso numa divisão minúscula. Ele é o retrato da inocência, um estranho num novo mundo. Ele perdeu completamente a capacidade de se relacionar socialmente com o próximo e vê-lo a tentar adaptar-se ao mundo moderno é hipnotizante.
5. O mistério
Será que Daniel cometeu o crime ou não? Esta dúvida acompanha-nos durante toda a série. Daniel é um personagem muito estranho – claro que isso pode ser uma consequência de ter passado 19 anos no corredor da morte – mas ele próprio diz, em várias ocasiões que é uma má pessoa. Apesar de ter confessado o crime há 19 anos atrás, vamos conhecendo outros possíveis culpados, que também estiveram presentes no local do crime. Também vemos Daniel aos 17 anos, depois de horas de interrogação a ser pressionado para confessar. Já para não falar que Daniel estava sob o efeito de drogas e a memória dele dos acontecimentos não é certa. Só a partir da segunda temporada se focam nesta questão de Daniel ter ou não cometido o crime, questão que tem atormentado o próprio Daniel ao longo dos anos (a primeira temporada é apenas sobre a aclimatização de Daniel à sua nova vida).
6. Os flashbacks
Daniel passou 19 anos na prisão e essa experiência é uma grande parte de Rectify. Ao longo da série vamos vendo flashbacks e sonhos de Daniel. A maioria deles envolvem o “vizinho” do corredor da morte, Kerwin. A interação entre eles é maravilhosa e dá-nos a conhecer um pouco melhor a mente de Daniel. Eles até acabam por se tornar amigos.
7. A cinematografia
Esta foi a última razão escolhida para ver a série, mas não quer dizer que seja menos importante. A ação decorre em Griffin, na Georgia e é repleta de campos verdes que parece que não têm fim, florestas com riachos e cascatas, árvores enormes isoladas e ruas desertas, com casas familiares, cada uma com o seu jardim e cercas de madeira (tipicamente americanas). Rectify é uma obra de arte, onde todas as cenas são deslumbrantes e encaixam na perfeição com a banda sonora. A série tem um andamento extremamente vagaroso, mas nunca é entediante, mesmo quando há pausas entre diálogos, ou cenas onde simplesmente não há diálogos. Há imagens que valem mais que mil palavras…