Quando terminou o episódio anterior, Jamie tinha uma arma apontada à cabeça por um indivíduo desconhecido e Claire saiu do quarto mesmo a tempo de se deparar com a situação e, de repente, começam a “desfilar” os créditos finais. O indivíduo misterioso é Taran MacQuarrie, líder d’A Patrulha, caçadores de recompensas e “protetores” de Lallybroch. Como é um homem procurado, Jamie Fraser não se pode dar ao luxo de divulgar a sua verdadeira identidade ou estes trafulhas poderão vendê-lo às forças militares do Capitão Jack Randall. Jenny entra mesmo a tempo de defender o seu irmão, dizendo que ele é um primo dela que voltou sabe-se lá de onde. A história é convincente o suficiente para MacQuarrie baixar a sua arma, mas os comportamentos maliciosos dos seus homens parecem incomodar os donos de Lallybroch. Jenny explica a Claire e a Jamie que MacQuarrie, em troca de estadia, comida e dinheiro, ajuda-os a proteger a sua terra do exército britânico e, por muito que seja contra a vontade de Jamie, parece ser mais sensato viver na mentira um pouco mais de tempo até estes decidirem partir. O problema surge quando um certo homem de nome Horrocks aparece, um interesseiro vigarista que conhece o jovem Fraser dos tempos de Castle Leoch e pode colocar em perigo a sua vida. Horrocks é um irlandês com um espírito trapaceiro e que usa a manha para atingir os seus objetivos (com base em dinheiro, como é óbvio) e a sua presença é, de facto, desconcertante. Enquanto isto, as águas de Jenny rebentam e Claire necessita de assistir no parto.
A realização atenta de Metin Hüseyin capta ao pormenor esta chegada d’A Patrulha, dando a conhecer ao público o que são, a sua função, e as suas atitudes animalescas ao mesmo tempo que se foca na relação de Claire e de Jenny que vai melhorando assim que o bebé está para chegar. “The Watch” é também o ponto de viragem para o romance de Claire e Jamie mas, para isso, terão de ver o episódio, porque tecer comentários não vale a pena. O que é realmente divinal é a forte tentativa de reconciliar uma família aparentemente despedaçada como é o caso dos Fraser e vê-los a trabalhar todos juntos acaba por sobressair acima dos problemas que se avizinham. A série constrói a sua história de forma criativa e em constante mudança mas fá-lo sensatamente e sem prejudicar o resto da narrativa que está algo em “standby”. Outlander continua a apostar em novas vertentes argumentativas que acabam por resultar numa constante modernização da série, vejam o exemplo de Castle Leoch onde Jamie e Claire não conseguiam ser felizes e o regresso a Lallybroch que prometia ser um novo começo. O facto de haver uma necessidade em encontrar um pico de mudança, torna Outlander numa série especialmente realista, ainda que tenha nuances fantasiosas e seja passada em tempos antigos.
Ao contrário do que é normalmente visto em séries de televisão de elevado orçamento, Outlander procura afastar-se do recurso a efeitos visuais e apostar na recriação epocal e no seu argumento intimista que realçam as características das suas personagens trabalhadas e de personalidades afincadas. O tom romancista que, também ele sofreu uma evolução nas obras de Diana Gabaldon, encontrou um certo apaziguamento assim que Claire confessou a Jamie o seu passado e isto, meus senhores e minhas senhoras, é de louvar. Em suma, ainda que seja uma série praticamente romântica, Outlander consegue distanciar-se do romance para dar asas à imaginação e trabalhar no pano de fundo do próprio elemento amoroso, construindo detalhadamente novos enredos e novas tramas que alimentam e enriquecem os episódios.
“The Watch” é mais um bom capítulo mas, claro, não chega aos calcanhares dos dois anteriores mas, ainda assim, está quase lá.
Nota: 8,5/10
Jorge Lestre