Até há relativamente pouco tempo, a televisão não tinha cenas de sexo tão abundantes como o cinema. Retratar a química entre atores por meros gestos como um beijo, um abraço ou alguns carinhos mais impróprios com cenas de nudez quase inexistentes, foi sempre algo que escondeu a verdadeira essência de se ser humano para não chocar a mente dos espectadores. O tabu do sexo tem vindo a ser quebrado todas as semanas quando chegam séries que ousam desafiar este conceito. É compreensível, de certa forma, que a televisão tenha “abraçado” esta iniciativa mais tarde, uma vez que todas as faixas etárias têm acesso a um comando e poderiam estar a assistir a cenas não aconselháveis para a sua idade. É certo que nós, seres humanos, achamos necessário que o nosso comportamento seja o mais aproximado da realidade possível na televisão e no cinema, uma vez que o sexo faz parte de nós, independentemente da mentalidade mais conservadora.
As relações não sobrevivem sem os prazeres carnais com que a nossa espécie foi criada e a televisão tem apostado de forma incrível nas diferentes abordagens sexuais. Vejamos o exemplo de Masters of Sex que, pelo título, dispensa quaisquer apresentações; a série acompanha os pioneiros do estudo do corpo humano durante a cópula, William Masters e Virginia Johnson, que, com personalidades opostas, acabam por se envolver no seu próprio estudo. A série não só é a luz verde no que toca a abordar temas menos convencionais, como os humaniza e acerta como que uma seta do cupido nos corações de todos os seus fãs. O amor palpita em todas as cenas e, o facto de a série se inserir nas décadas de 50/ 60, torna-a ainda mais eficiente e pertinente, desmistificando o sexo numa altura em que tudo era visto com um conservadorismo exacerbado. Bill e Gini defendem o sexo em prole da Ciência e o amor que surge entre os dois é mais forte e mais sólido que qualquer outra relação da televisão contemporânea.
Em The Affair, que venceu recentemente alguns Globos de Ouro, o sexo é quase como a premissa de base da sua narrativa criativa e original. Noah e Alison entram num clima de sedução desde que se conhecem e, embora ambos sejam casados, nada parece impedir que se deitem na cama e se deixem levar pelos desejos mais ardentes. O conflito emocional e psicológico é abordado a todos os momentos e a promiscuidade parece vencer o convencional em quase todas as situações. A genial equipa de guionistas aposta em grandes reviravoltas, insistindo nas prolongadas cenas de sexo entre os seus dois protagonistas. Isto, pensando que não, é arte. Uma relação ilícita vive disto, vive deste clima que transpira sensualidade e entusiasmo; vive de poucas palavras e da constante atividade física. E mesmo aqueles casais que se sentem mais impressionados com as traições e ultrajados pelas constantes aventuras sexuais do casal, são forçados a aceitar que os protagonistas parecem ser feitos um para o outro.
Para terminar, vamos falar sobre Game of Thrones que, não só é a série mais vista do mundo, como é aquela que desafia tudo o que sabemos sobre o sexo. Desde relações homossexuais, a incesto e violações, nudez e castração, não parecem haver limites para a mente perturbada do seu autor.
O universo de George R. R. Martin é uma excelente visão e detalhada abordagem sobre o sexo. A prostituição, as orgias e o sexo forçado são retratados sem qualquer tipo de pudor, num registo que já podia ser visto em séries como Rome e Spartacus e que vêem o seu legado a ser imortalizado nos olhos de milhões de pessoas por todo o mundo. As diversas abordagens sexuais espelham uma sociedade em que o sexo, como necessidade humana, é algo de banal nas suas diversas formas de execução. Define situações e momentos bons e maus, e abre portas para todos aqueles que ainda se sentem relutantes em encarar o sexo como algo que deve ficar dentro de quatro portas. A leviandade de muitas personagens desta epopeia e a nudez abundante tornam-na numa das mais credíveis e entusiasmantes séries do momento.
Com estas análises sexuais diversificadas, podemos consentir que a televisão evoluiu não só a nível moral como a nível físico, mostrando que os impulsos corporais e atrações platónicas fazem parte da nossa natureza e que a inegável qualidade visual permite-nos alargar os nossos horizontes.
A sedução pelos números é como um íman para as produtoras cinematográficas e televisivas e o negócio do sexo tem um impacto poderoso nas vendas. Isso vê-se não só pelas séries mencionadas em cima, como também em True Blood e Californication em que o sexo é a imagem de marca. O sexo é uma indústria rentável e estas duas séries conseguiram manipular a sua propaganda através dele, lucrando imenso em audiências. Tirar proveito de um apetite humano para servir como marca é uma ideia genial e a televisão continua a progredir nesse ramo. Podia enumerar muitos outros exemplos, mas se o fizesse estaria a discursar para o infinito e mais além. Sucintamente deixo aqui uma pequena reflexão de como o uso do sexo é algo que evoluiu na televisão, e que promete estar sempre em constante desenvolvimento.
Estreia a parte 2 da cronica aqui.
Jorge Lestre