Estreia hoje no AXN a minissérie Long Bright River, que se passa numa zona de Filadélfia assolada pela pobreza e droga, que atiraram muita gente para as ruas. Um original da Peacock, este drama é inspirado no livro, com o mesmo nome, da autora americana Liz Moore e conta-nos a história de uma cidade mergulhada em miséria, sob a perspetiva de Mickey Fitzpatrick, uma agente da polícia que cresceu ali, mas que conseguiu, ao contrário de muitas jovens da sua geração, construir uma vida estável.

Apesar de um pouco longo, o piloto é interessante e pautado de tensão praticamente do início ao fim. Não é um daqueles episódios que nos agarra completamente ao ecrã, mas não há dúvida de que o tema central é extremamente relevante de um ponto de vista social e deixou-me deprimida, algo que acho que faz todo o sentido numa série destas. As these girls do título são uma alusão ao sentido pejorativo com que o parceiro de Mickey na polícia se refere às mulheres que vivem nas ruas. Ele não é mau homem, mas representa aquilo que muitos de nós somos: cegos nas nossas vidas confortáveis para perceber que há pessoas que nunca tiveram uma oportunidade real de granjear um futuro melhor, preconceituosos por julgar que estas mulheres se encontram nas ruas simplesmente porque tomaram más decisões que as levaram ali. Mesmo que assim seja, isso torna-as menos dignas de empatia ou de serem ajudadas? O ponto forte do episódio é precisamente este, o deixar-nos a pensar sobre estas questões e o quanto este mundo é podre sob tantos aspetos.

É claro que Mickey não pode ver estas mulheres de uma forma imparcial. Este é o meio em que cresceu, mesmo que agora envergue uma farda da polícia, mas penso que percebe que também ela podia ter caído nas drogas e estar a viver nas ruas, caso algumas coisas tivessem sido diferentes. Quer dizer, suponho que ela e a irmã tenham crescido da mesma forma e Kacey é sem-abrigo. É por causa dela que Mickey patrulha aquelas ruas tão diligentemente, sempre à espera de ter alguma notícia da irmã, sempre com medo de que um dia possa ser o corpo dela a aparecer na morgue. No entanto, acho que tudo vai muito além da irmã e que ela se preocupa genuinamente, tal como o antigo parceiro a parece ter ensinado.

Não sou uma grande fã de Amanda Seyfried, mas é inegável que ela desempenha bem o seu papel e são particularmente interessantes as cenas em que vemos Mickey lidar com uma ansiedade/medo paralisantes. Há mais três ou quatro personagens de destaque no episódio e aquele de quem mais gostei foi mesmo o de Nicholas Pinnock. Estou curiosa para perceber melhor a relação entre Mickey e Truman, tanto no passado, como no presente. O mesmo em relação à única família – além do filho – que Mickey parece ter, o avô.

Há vários mistérios que foram deixados no ar, tanto no que diz respeito à vida pessoal dos personagens, como no que está relacionado com a investigação policial, o que deixa vontade de continuar a ver. No entanto, esta não é a típica série em que o crime é a história principal. As pessoas e as circunstâncias à sua volta parecem sê-lo e achei isso verdadeiramente positivo. Não adorei, mas acho que vale a pena. Long Bright River pode certamente ensinar-nos uma coisa ou duas sobre humanidade.