A 1.ª temporada de Dune: Prophecy chegou hoje ao fim na Max, e, se o entusiasmo inicial deixado pelo piloto prometia, o desenrolar da temporada não desapontou. Desde o primeiro episódio, a série da HBO demonstrou um enorme potencial, e é com satisfação que confirmo que essas expetativas foram amplamente superadas. Ao longo da temporada, o interesse foi crescendo de forma sustentada, culminando num episódio final que se destaca como uma grande conclusão.
A série apoiou-se fortemente numa narrativa intricada e habilmente elaborada, com as esperadas intrigas palacianas e jogos de manobras e contramanobras, mas que foram conduzidos com muita eficiência. A questão que levantei na crítica do piloto sobre o que uma série centrada numa seita de mulheres capazes de ver o futuro poderia trazer de surpreendente foi respondida de forma inteligente: olhando para o passado. O arco das irmãs Harkonnen, Valya (Emily Watson) e Tula (Olivia Williams), foi uma peça central da história e, sem dúvida, o ponto alto da temporada. A forma como este passado foi revelado, com parcimónia e apenas nos momentos certos, garantiu uma tensão crescente e impacto emocional. A exploração das motivações humanas – vingança, amor, honra – mostrou como os limites podem ser ultrapassados quando o lado mais sombrio toma conta, especialmente em nome de causas que podem não ser tão justificáveis quanto aparentam.
Visualmente, a série está belissimamente bem trabalhada. Os mundos apresentados são cuidadosamente criados, com uma fotografia exímia que capta o lado contemplativo do universo de Dune. Contudo, este contraste com a visceralidade das personagens e dos acontecimentos é o que torna a série verdadeiramente única. As personagens, longe de serem planas, possuem uma profundidade impressionante, movendo-se em tons de cinzento escuro que as tornam complexas e fascinantes. Cada uma delas tem a sua própria agenda, o que enriquece a narrativa e contribui para a imprevisibilidade da série. Há vários momentos marcados por um elevado teor de agressividade, que me surpreenderam e reforçam este mesmo fator surpresa apresentado.
Um destaque especial vai para Desmond Hart, interpretado por Travis Fimmel. A sua personagem funciona como um necessário contrapeso à Madre Superiora, trazendo uma dinâmica intrigante. A questão “como se detém alguém imparável?” é respondida de forma inteligente ao apresentar Hart como uma figura enigmática, cujo próprio poder se torna um mistério a desvendar. A revelação da sua origem e capacidades, apresentada num twist bem estruturado, é outro ponto alto.
Esta 1.ª temporada de Dune: Prophecy conseguiu criar um equilíbrio notável entre uma narrativa rica e intricada com os aspetos técnicos, elevando-a a um patamar superior dentro do género. Foi uma adição sólida e envolvente ao universo de Dune, deixando no ar uma expetativa elevada para a já confirmada 2.ª temporada.
Dune: Prophecy está totalmente disponível na Max em Portugal.
Melhor episódio:
Episódio 6 – The High-Handed Enemy – O último episódio de Dune: Prophecy foi carregado de revelações e momentos decisivos que amarraram muitos dos fios narrativos da temporada. Com várias surpresas e twists bem trabalhados, o desfecho entregou respostas aguardadas e consequências significativas para as personagens. A intensidade das cenas e o impacto visual marcaram o tom, garantindo que a temporada terminasse em alta, sem deixar espaço para deslizes ou momentos desnecessários.
Personagem de destaque:
Tula Harkonnen (Olivia Williams) – Tula emerge como a grande surpresa da série, desviando os holofotes que facilmente poderiam recair sobre os antagonistas centrais, Valya e Desmond. É na sua figura, aparentemente mais frágil e insegura, que reside a verdadeira força da narrativa. Cada uma das suas ações é uma constante fonte de surpresa, e as decisões que tomou no passado continuam a ressoar no presente, tornando-se surpreendentemente a força motriz que impulsiona os eventos. A complexidade de Tula reside nesse contraste entre a sua vulnerabilidade aparente e o impacto profundo das suas escolhas.