Estreou hoje na Netflix uma das séries mais esperadas do ano: Senna. Em seis episódios, a minissérie brasileira, que retrata a vida e a carreira de Ayrton Senna, chegou à altura do legado do piloto mais conhecido da história da Fórmula 1. Tal como a carreira do piloto, a série do realizador Vicente Amorim está cheia de qualidade e impressiona qualquer um, por mais leigo que seja, quer em temas cinematográficos, como em temas de corridas de carros.
O episódio começa com o momento mais trágico, mas que ao mesmo tempo é um dos momentos mais históricos do desporto mundial, que foi o terrível acidente do dia 30 de abril de 1994, no Grande Prémio de São Marino em Itália. O impacto é grande e ficamos logo presos à história que nos transporta para os anos 60, quando Senna começou a demonstrar os primeiros sinais de que viria a tornar-se numa lenda dentro e fora das pistas. Ao longo do episódio vemos o início de carreira de Senna, os primeiros troféus que ele ganha e a mudança para Inglaterra, onde correu pela Fórmula Ford e ganhou 12 de 20 corridas. O episódio mostra-nos o amor que Senna tinha pelo automobilismo, algo que levou a que o seu casamento terminasse.
A ambientação de Senna é uma aula de produção! A série foi filmada em locais emblemáticos, como São Paulo, Buenos Aires e autódromos na Inglaterra. A reconstrução de carros, capacetes e uniformes da época oferece uma experiência visual impressionante, transportando os espectadores para as pistas dos anos 1980 e 1990. Nota-se que houve preocupação em honrar a memória de Senna. A uma produção incrível junta-se uma realização e direção brilhante. A fotografia captura com mestria a atmosfera das pistas de corrida, fazendo com que o espectador sinta que está dentro do carro à mesma velocidade que os pilotos. Já a banda sonora é composta por uma mistura de temas nostálgicos com músicas modernas, criando uma camada emocional extra às cenas.
Mas não posso não falar da prestação de Gabriel Leone no papel de Ayrton Senna. Leone conseguiu trazer a perfeita combinação entre o carisma impactante e a fragilidade de Senna. Fazer este papel não é fácil, dado que muito facilmente o ator podia cair numa caricatura forçada ou uma interpretação mal interpretada. A verdade é que Leone arrasa na maneira como traz de “volta” Senna e não será por acaso que a própria família do piloto, que teve grande importância na produção, aprovou o ator para este papel tão emblemático.
Talvez o lado menos interessante tenha sido mesmo o argumento. Embora não seja mau, é algo muito básico e, claro, como acontece sempre em séries como esta, que contam a vida de alguém, faltam algumas coisas e alguns detalhes sobre certos momentos na vida de Senna. Um dos pontos mais críticos é a personagem Laura, uma personagem fictícia interpretada por Kaya Scodelario, que dá vida a uma jornalista responsável por acompanhar a carreira de Senna. Percebo a inclusão da personagem de modo a ser a figura explicativa da história do piloto para quem não está tanto por dentro da sua história ou do seu legado, mas também entendo as críticas que dizem que o tempo de ecrã e o protagonismo dados a Laura podiam ter sido usados para retratar outras situações de uma maneira mais aprofundada. Ainda assim, pessoalmente é algo que não me incomoda tanto e não acho que estrague de todo a experiência ou a história.
O legado de Ayrton Senna nunca será esquecido. Trinta anos depois da sua morte ainda continua a ser um ídolo para todos os que gostam de desporto, principalmente automobilismo. Senna vem contribuir para o legado, sendo uma forma bonita de honrar a memória de alguém que foi um exemplo de superação e a figura de uma nação e que certamente inspirou milhões de pessoas pelo mundo fora.