Regent, o novo episódio de House of the Dragon, foi, como esperado, um momento de calmaria após um período intenso de voltas e reviravoltas a meio da temporada. Depois do último episódio, repleto de emoções e conflitos, era previsível que a narrativa desacelerasse, permitindo aos personagens (e a nós) um momento para recuperar o fôlego. Embora tenha sido um episódio mais calmo, não deixou de ter substância e momentos significativos que moldam o rumo da série. Este episódio serviu para realinhar as peças no tabuleiro de jogo, preparando o terreno para os confrontos finais que se avizinham.
Um dos temas centrais deste episódio foi o papel da mulher na guerra e na sociedade. Houve diálogos profundos e significativos que exploraram como as mulheres são vistas no contexto de liderança e conflito. A série sublinhou a noção de que as mulheres são consideradas capazes de governar em tempos de paz, mas não em tempos de guerra, uma visão enraizada nas normas patriarcais da sociedade em questão. Este debate foi ilustrado através de conversas entre personagens femininas que discutem suas experiências e desafios, ressaltando que não foram criadas ou preparadas para a guerra. Essa discussão também reflete a luta interna de personagens como Rhaenyra (Emma D’Arcy) ou Alicent (Olivia Cooke), que estão constantemente a enfrentar os preconceitos de uma sociedade que não vê a mulher como uma líder natural em tempos de conflito.
Daemon (Matt Smith) finalmente parece focado na guerra, afastando-se dos seus demónios pessoais. Embora as assombrações ainda persistam, pensei que já tivessem cumprido o seu papel, mas pode haver mais que se lhe diga. Pela primeira vez, declara abertamente a sua intenção de ser rei e não apenas um consorte. Esta declaração é uma viragem na narrativa de Daemon, mostrando a sua ambição e desejo de poder ou apenas confirmando aquilo que já há muito suspeitávamos. Propõe governar ao lado de Rhaenyra, desde que ela aceite estes termos. Esta proposta adiciona uma nova camada à dinâmica de poder entre ele e Rhaenyra. Veremos as consequências disso.
Aemond (Ewan Mitchell) ser nomeado regente não foi uma surpresa, dado o seu caráter ambicioso e determinado. Ele está onde sempre quis estar, com o poder que sempre almejou. A sua ascensão ao poder foi cuidadosamente preparada ao longo da temporada e os eventos do último episódio favoreceram ainda mais as suas ambições. Esta posição solidifica o seu papel central na série e continua a desenvolver a sua personalidade implacável. Aemond tem demonstrado uma astúcia política e uma habilidade em manipular situações a seu favor, o que o torna uma das figuras mais intrigantes e ameaçadoras da trama. Ele e o que tem feito com o seu Dragão estão a torná-lo uma força a ser reconhecida, como também foi apontado por várias personagens neste episódio. O que fica bastante claro até na última cena do episódio, pois os seu adversários são obrigados a pensar fora da caixa e isso normalmente rende bons momentos, já para não dizer que a ideia de adicionar mais Targaryen e mais dragões à batalha é sempre bem-vinda. Que venham eles!
Corlys (Steve Toussaint) recebe uma lição da sua neta sobre como um homem deve comportar-se no luto. Este momento foi profundo e tocante, lembrando Corlys que nem tudo é sobre ele. Baela (Bethany Antonia) sublinha que o luto é um processo que também envolve respeitar os sentimentos e o espaço dos outros e não apenas focar-se na própria dor. Este confronto pode ser o catalisador para que Corlys finalmente assuma o seu lugar de destaque na batalha, sem restrições. A participação ativa na guerra poderá ser crucial nos próximos episódios e esta lição de humildade e empatia pode moldar a forma como ele se envolve nos conflitos futuros. Esperemos que sim, pois tem potencial para causar sérios problemas aos verdes.
O destaque de Regent, no entanto, foi Jacaerys (Harry Collett), que finalmente aparece com relevância em House of the Dragon, mostrando ser talvez o melhor pretendente ao trono. Demonstrou lealdade em várias ocasiões: com a sua prometida, com a mãe e com a família. Jacaerys é ponderado, mas com uma dose certa de audácia e irreverência. A sua negociação inteligente conseguindo mais uns aliados para a causa da mãe foi apenas mais uma prova da sua capacidade, que ainda não tinha tido a oportunidade de demonstrar convenientemente. E para não falar que nos trouxe mais um momento saudosista de Game of Thrones. Depois de Winterfell, aqui vemos Twins, o lugar onde se deu o Red Wedding. Talvez das melhores cenas de sempre em televisão (ainda causa pesadelos), mas é dos momentos mais poderosos e não consegui não pensar nele quase a ouvir Rains of Castemere a ecoar na mente. E engraçado que dei por mim a torcer por ele como na altura tinha torcido por Robb (Richard Madden). Espero que o destino não o atraiçoe assim.
Regent pode não ter sido o episódio de House of the Dragon mais explosivo, mas teve o seu mérito. Não foi apenas um filler: mostrou o panorama geral das relações e motivações dos personagens após um momento tão marcante. Este episódio prepara o terreno para o desenrolar dos eventos até ao final da temporada, oferecendo-nos uma visão clara das alianças e rivalidades que moldarão o futuro. A calmaria antes da tempestade permitiu um desenvolvimento mais profundo das personagens e das suas dinâmicas.