O realizador Sanjay Leela Bhansali leva-nos à Índia da década de 1940, nos últimos alentos da era colonial britânica, através da sua nova série, já disponível na Netflix, Heeramandi. O episódio inaugural é notável pela sua cinematografia e figurinos, ambos impecáveis e marcados pela sofisticação e glamour.

A série indiana começa com a apresentação de Mallikajaan (Manisha Koirala), a matriarca de uma casa de cortesãs em Lahore. À medida que a história se desenrola, somos introduzidos a novas personagens, conflitos, tensões sociais e políticas, num retrato histórico autêntico da Índia, longe das representações estereotipadas do Ocidente.

Um dos aspetos mais estimulantes é a apresentação de uma comunidade feminina que utiliza as estratégias necessárias para manter a sua exclusividade e poder numa sociedade dominada pelos homens. A obra proporciona um olhar sobre mulheres que, apesar de historicamente marginalizadas e discriminadas, ocupam um lugar de destaque, habilmente navegando nos limites da aceitação social através da sua inteligência e habilidades artísticas, sem simplificar a complexa trajetória das personagens.

O cuidado meticuloso com os detalhes e a escolha da paleta de cores proporcionam um verdadeiro banquete visual. Contudo, o uso repetitivo de determinados movimentos de câmara pode comprometer a experiência visual do espectador.

A série beneficia de uma abordagem melodramática, com algumas atuações exageradas que são típicas das produções de Bollywood. A banda sonora, embora por vezes eficaz, nem sempre consegue complementar de modo adequado as cenas.

O elenco feminino destaca-se de forma notável, com menção especial para Aditi Rao Hydari e Sanjeeda Shaikh, cujas interpretações magistrais de Bibbojaan e Waheeda, respetivamente, conjugam impulso e rebeldia, com cada uma, à sua maneira, a capturar a atenção e o interesse do público.

Heeramandi é uma produção justa que transita por entre clichés, revelando um núcleo rico de personagens complexas, cujos anseios por transformações pessoais, políticas e sociais são palpáveis e cativantes. A série, embora tropece em alguns lugares-comuns, exibe uma narrativa com potencial, prometendo uma jornada emocionante se conseguir evoluir a força e profundidade dos seus arcos narrativos até ao fim da temporada.