No 3.º dia desta edição da Comic Con Portugal, tivemos a oportunidade de assistir à conferência de imprensa de Pedro Varela, realizador e produtor de Azul, uma série que estreará brevemente na OPTO, o serviço de streaming da SIC. A conversa foi marcada por partilhas muito interessantes sobre a produção de séries portuguesas, assim como a importância de retratar temas sociais relevantes para uma sociedade melhor e mais humana. Além disso, descobrimos mais algumas novidades e curiosidades sobre esta nova produção.
Azul retrata um mundo onde as baleias se extinguiram, não tendo sido avistado nenhuma há mais de um ano. A personagem principal é uma jovem rapariga que se junta a um grupo de ativistas nos Açores com a missão de fazer regressar as baleias que desapareceram do planeta.
Este projeto tem o seu começo quando Marco Paiva, que também entra na produção, desafia o Pedro a criar um projeto onde pudessem incluir atores com deficiência num papel principal. Nesse mesmo almoço, o realizador constrói o enredo da série, sendo que o verdadeiro desafio foi torná-la inclusiva, sem “sublinhar o tema”, ou seja, tornar a deficiência num tópico muito natural. Encontraram essa protagonista com a personagem da Olivia (Leonor Belo), que é a alavanca da história. Pedro fala da sua profunda admiração por Leonor como um amor puro, sem barreiras e que aprendeu muito a trabalhar com ela devido, entre outras coisas, ao seu empenho constante.
Neste momento, Azul encontra-se em fase de pós-produção, sendo que no total precisarão de cerca de 12 a 13 meses devido aos vários efeitos visuais e especiais, semelhante ao que produções da Netflix como Rabo de Peixe costumam ter. A série que conta com a presença de dois atores islandeses, esteve a rodar na Islândia durante cerca de 11 dias, sendo que inclusive a história acaba lá. Gostariam muito de explorar a ideia de uma 2.ª temporada a ser passada na Islândia, caso a série continue.
Um pouco sobre o realizador, Pedro Varela fez a sua estreia como encenador numa adaptação teatral de Trainspotting, com um tema social forte, mergulhando agora no tema das alterações climáticas. O Séries da TV teve a oportunidade de o questionar acerca deste seu interesse por explorar temas sociais relevantes, ao que Pedro revela que está a lançar uma longa-metragem no Brasil intitulada Vidro Fumê, que aborda o tema da violência contra a mulher. Diz que o seu trabalho tem muito a ver com as causas com que se conecta, muitas delas causas sociais fortes, e que Azul tem a ver com um olhar sobre a humanidade e sobre nós mesmos, sobre o que fazemos ao nosso planeta. Revela que todas as suas produções tem um lado muito pessoal e que pretende alertar para as mesmas, visto que é fácil cada um de nós andar distraído nas suas respetivas vidas.
Quanto ao panorama da produção e distribuição de séries portuguesas, Pedro acredita que a sua posição como produtor o ajuda muito na concretização das suas ideias como realizador. Os orçamentos duplicaram, mas não considera que se façam por isso coisas melhores do que se faziam na altura. Mais recentemente, com a febre do streaming e das séries surgiram novos investimentos em séries portuguesas, como por exemplo Rabo de Peixe, sendo um pouco injusto para as restantes produções que não têm a sorte de ser financiadas por um fornecedor de streaming como a Netflix. Confessa não ser fã do modelo de produção de séries da RTP por “ser um modelo que produz mas não mostra”, revelando para si a importância de publicitar as séries, de forma a ter uma audiência que realmente veja o seu trabalho. Não deixa no entanto de realçar a importância da RTP como uma máquina muito importante para a produção de conteúdo de séries em Portugal.
Questionado sobre a sua vontade de realizar uma série especificamente sobre alterações climáticas, Pedro diz que segue várias organizações e que os temas vão entrando em si e vão-se “amontoando num canto”, até ter matéria suficiente para poder usar na altura certa e sobre os temas que verdadeiramente lhe importam. Relacionado com o tema da representação, além da protagonista com trissomia 21, têm também um personagem surdo e podem assim introduzir língua gestual na série.
Azul estreará, em principio, depois do verão e estará disponível na plataforma de streaming OPTO.