American Horror Story regressou, com o primeiro episódio de Delicate, e, pela primeira vez, a série é baseada num livro, não numa ideia totalmente original. Depois de algumas temporadas menos inspiradas (desde Roanoke, tirando a primeira parte de Double Feature – Red Tide, nenhuma me convenceu), tenta com esta nova leva de episódios voltar à velha forma das muito bem conseguidas primeiras, como Murder House, Asylum ou Freak Show. Não tendo lido o livro, não sabia bem o que esperar quando iniciei o episódio, mas uma coisa ressoou ao longo dele_ aquela sensação de desconforto e desconfiança. Na sua maior parte, fez-me lembrar Rosemary’s Baby.
Nova Iorque é sem dúvida uma cidade com aura diferente e perfeita para este tipo de histórias. A sua ambiência funciona quase como um personagem por si só: aquele feeling de que estamos rodeados de um mar de gente, mas sozinhos, os tons cinzentos, os prédios altos que lançam uma eterna sombra. Tudo grita “algo de sinistro está a chegar para te apanhar” e eu creio que está mesmo. A personagem de Emma Roberts (Scream Queens) não vai ter a vida facilitada, embora neste piloto me pareça que também não é assim tão indefesa. Claro que se encontra meio baralhada com tanta coisa que lhe estão a pôr no sistema devido ao tratamento de fertilidade e pelas constantes estranhas situações que lhe vão acontecendo, mas acredito que irá dar luta. Seja o que for que na realidade se está a passar, dá indicações disso com algumas atitudes, mostra alguma combatividade.
Todos os personagens são simpáticos, mas neste contexto isso é de desconfiar: os sorrisos, os comentários aparentemente positivos que soam a ofensas veladas, é tudo muito clean, soa a falso, todos parecem ter um motivo oculto e provavelmente têm. A única exceção parece ser a personagem de Kim Kardashian, que genuinamente gosta dela, no entanto, com esta vibe e apenas com o primeiro episódio como base, ainda não estou pronto para colocar as mãos no fogo por ninguém. Acho que vamos ser surpreendidos, todas as indicações apontam para um “vilão” misterioso, mas não fiquei tão certo assim que as motivações dessa persona sejam malévolas… Cá está outra vez, aquele sentimento de suspeita que nos acompanha o episódio todo.
Este episódio de American Horror Story: Delicate despertou em mim sentimentos contraditórios, pois acertam no ritmo e no tom. Está muito bem conseguido para aquilo que é a proposta deste tema específico, deixam respirar, não apressam nem começam logo over the top como tem acontecido em algumas temporadas, ficamos sempre intrigados e a querer saber o que vem dali. No entanto, isso leva ao reverso da medalha. Por ser tão colado ao imaginário que temos de Rosemary’s Baby já quase se advinha o que isso é, o que retira algum mistério. É verdade que tentam tornar a história mais moderna, soltando-se de algumas amarras que se impunham, dando uma perspetiva mais feminina, mas não se deixa de sentir que, de algum modo, já se viu isto. Podia ser mais fresco e instigante!
O primeiro episódio estreou no passado dia 20 no FX, nos EUA, mas ainda não há data estreia marcada para Portugal. As temporadas anteriores podem ser acompanhadas, no nosso território, através do Disney+. Esta temporada vai ser dividida em duas partes: a primeira consiste em quatro episódios que sairão semanalmente.