Já lá vão uns oito anos desde que li Grandes Esperanças, de Charles Dickens, mas desde essa altura (e embora já não me lembre de grande parte dos detalhes da história) ficou como um dos livros que mais gostei de ler e com personagens e histórias das mais interessantes que já li.
Por este motivo, uma adaptação do livro a minissérie pela mão da BBC entusiasmou-me desde o seu anúncio e Olivia Colman no papel de Miss Havisham deixou-me ainda com mais curiosidade. Finalmente, a série chegou a Portugal através do Disney+ e pude voltar a este mundo de Dickens, já bastante esquecido na minha memória.
O primeiro episódio de Great Expectations é introdutório à condição familiar e ao primeiro encontro transformativo do jovem Pip, o nosso protagonista, aqui ainda um mero aprendiz de ferreiro, e ao seu coração puro, mas descontente e ambicioso. Ainda assim, o episódio lá avança até ao principal fio condutor da história, introduzindo e dando já a conhecer a personagem mais intrigante de todas: Miss Havisham, uma senhora rica que nunca ultrapassou ter sido abandonada no altar e que a partir daí decidiu viver os seus dias em isolamento, com o seu vestido de casamento ainda vestido. Introduz-nos também Estella, a filha adotiva de Miss Havisham, das quais ainda muito pouco é explorado, mas das quais é dada a entender frieza e estranheza suficientes para alimentar a curiosidade.
O episódio ainda esconde a verdadeira intenção de Miss Havisham em trazer Pip para a sua mansão e ainda bem, pois o desenvolvimento deste trio é o que torna Grandes Esperanças uma obra tão intrincada.
Embora ainda sem entrar muito na história principal, considero o episódio um sucesso como introdução à série e ao seu protagonista. Penso que os primeiros segundos, dos quais a narrativa depois recua uns bons anos, eram escusados, mas funcionam como uma boa âncora para o espectador menos familiarizado com a história, dando já a entender que vai haver um desenvolvimento a longo prazo, novos atores a dar vida aos protagonistas em fase mais crescida e sofrimento emocional envolvido.
Ao contrário da adaptação de Grandes Esperanças no filme de 2012, em que Helen Bonham Carter eleva, na minha opinião em demasia, a excentricidade e loucura de Miss Havisham, a maior sobriedade – mantendo o seu quê de assombro próprio da personagem – agradou-me na interpretação de Olivia Colman. A interpretação de Bonham Carter combina com os seus papéis excêntricos, mas sempre me pareceu um bocado descaracterizado/exagerado em comparação com a ideia que criei de Miss Havisham ao ler o livro. Fiquei agradada com a perspetiva de uma melhor interpretação por parte de Colman, que só conseguirei concluir totalmente ao ver mais uns episódios.
Em suma, a cinematografia e a interpretação convencem e continuo com grandes esperanças (redundância propositada) para o que resta desta adaptação de Great Expectations!