Após quatro anos de espera, Black Mirror está de volta para uma 6.ª temporada, disponível na Netflix, e para ser sincera não sei se a espera, considerando o que nos foi apresentado, valeu assim tanto a pena. Não quero com isto dizer que os episódios são maus, apenas não corresponderam às minhas expectativas e, atrevo-me a dizer, ao que Black Mirror nos habituou. Além disso, esta temporada foi anunciada como sendo a “mais imprevisível, inqualificável e inesperada de sempre”, o que não sucedeu.
Se ignorarmos por completo as temporadas anteriores e analisarmos estes episódios isoladamente, eles até podem ser considerados bons e, até certo ponto, ligeiramente imprevisíveis e inesperados, especialmente tendo em conta alguns plot twists. No entanto, se os compararmos com as outras temporadas, esta não está nem perto da qualidade apresentada anteriormente. E não me refiro somente ao facto de elementos de ficção científica não terem estado tão presentes nesta temporada, mas sim ao facto de os episódios não terem o impacto que outros tiveram. Com exceção do primeiro, talvez, nenhum dos outros quatro me fez pensar mais dois minutos que fosse no que tinha acabado de ver, a não ser “o que é feito de Black Mirror“?
Uma das coisas que mais apreciava nesta série era a sua capacidade de nos fazer ficar a pensar, quase em loop, sobre o que tínhamos acabado de ver. Raro era o episódio em que isso não acontecia! A série fazia refletir sobre o lado obscuro da tecnologia e também do ser humano, explorando questões morais extremamente complexas. Embora muitas vezes a realidade apresentada nos parecesse muito distante, não deixava de ser uma possibilidade, especialmente tendo em conta os constantes avanços tecnológicos. Já para não falar que o ser humano é efetivamente capaz de tudo, principalmente das maiores atrocidades. Ver tudo isso conjugado de forma genial, aliando o facto de que facilmente víamos aquilo a acontecer, tornava Black Mirror uma das melhores séries de todos os tempos.
No entanto, isso não sucedeu com estes episódios. Não só poderiam facilmente pertencer a qualquer outra série, como o elemento de possível realidade – à exceção dos dois primeiros episódios – se perdeu, dando inclusive lugar ao sobrenatural. Para mim, isso não é necessariamente um problema, mas considero que não faz jus à qualidade de Black Mirror.
O terceiro episódio, por exemplo, a par do primeiro, até se assemelhou ligeiramente ao que foi apresentado em temporadas anteriores. No entanto, a duração excessiva (e atrevo-me a dizer, desnecessária) do episódio, aliado ao facto de que nos é dado pouco contexto quanto à missão deles, a razão pela qual foram escolhidos e como é que chegaram à criação das réplicas, por exemplo, tornou difícil fazer-nos interessar pelo que realmente estava a acontecer, o que acaba por diminuir o impacto esperado, principalmente no final.
Resumidamente, a 6.ª temporada de Black Mirror deixou a desejar em comparação às suas antecessoras, mas ficarei a aguardar ansiosamente por futuras temporadas, sendo que espero que a próxima traga de volta o impacto e a qualidade que tanto admiramos nesta série.
Melhor Episódio:
Episódio 1 – Joan Is Awful – Talvez este tenha sido o episódio que mais se assemelhou aos que estávamos habituados a ver em Black Mirror. Neste, Joan encontra numa plataforma de streaming uma adaptação em série da sua vida, sendo que para tal se recorreu a imagens geradas por inteligência artificial, principalmente da estrela de Hollywood que a representa, Salma Hayek. O aumento do número de ferramentas que têm por base inteligência artificial, aliado ao facto de raramente lermos os termos e condições na sua íntegra, fazem deste episódio aquele de que mais gostei na temporada.
Personagem de destaque:
Davis McCardle (Samuel Blenkin) – Tendo em conta a temporada num todo, e uma vez que se trata de uma antologia, confesso que não sabia muito bem quem escolher, pois não houve nenhum personagem ou história em particular que me tivesse chamado muito a atenção. No entanto, considerando o que o 2.º episódio tentou representar, e imaginando o sofrimento pelo qual Davis estava a passar, acabei por considerá-lo.