Emília é uma das mais recentes séries da RTP, que volta a apostar em talento jovem. Escrita e realizada por Filipa Amaro (nome que, para os conhecedores da série Frágil, poderá não soar estranho), Emília conta a história de uma jovem de 25 anos com medo de ser um talento desperdiçado. Esta história foca-se nas ansiedades da personagem principal, que deseja ser como outras raparigas que vê nas redes sociais, onde as suas vidas parecem perfeitas. Com uma vida pouco ou nada interessante, Emília (Beatriz Maia) vê numa audição de dança a oportunidade de tentar algo maior e provar a si mesma e ao mundo que tem mais potencial do que aquele que aparenta. Esta minissérie, que nada tem de mini, lida com a ansiedade na era digital, com o luto, distúrbios alimentares e, acima de tudo, com a coragem que, muitas vezes, nos falta para tentar.
Começo por destacar a escrita, que tem tanto de sensível como de cómica. Os diálogos oferecem-nos momentos de reflexão muito pertinentes e que são ainda mais elevados pela belíssima interpretação dos atores. Um adjetivo que pode bem caracterizar esta série é a sua subtileza. Há diversas interações ao longo da narrativa que são tão ricas, mas tão simples. E acho que essa é a beleza de Emília, a sua simplicidade. Porém, essa beleza pode ser também encontrada na direção de arte, que criou um universo de cores vivas e quentes para o mundo da Emília que ajudam a caracterizar a personagem.
A construção dos personagens está muito bem conseguida. Estes estão suficientemente desenvolvidos e apresentam uma complexidade bem trabalhada para uma série com apenas seis episódios. Houve apenas um detalhe que me inquietou um pouco, porque não considero ter contribuído para a narrativa: o personagem Rui (Marco Mendonça) que, com uma única aparição, se desvaneceu.
Os segmentos de dança são envoltos numa espécie de aura onírica, em que parecemos entrar no corpo dos personagens e no seu espaço mental. São cenas verdadeiramente ricas, do ponto de vista cinematográfico e da interpretação. E, são igualmente bem conseguidas pela banda sonora inteligentemente escolhida, proporcionando uma experiência emocional que dificilmente consigo pôr por palavras.
Esta não é uma história de bons e maus, mas se tivesse de haver algum vilão, ele provavelmente seria Emília, já que o seu maior impedimento para arriscar é ela própria. E nesse sentido, esta é uma história transversal a muitos de nós. Quantos de nós não arriscam com medo de falhar? Emília mostra que nunca é tarde para tentar.
De um modo geral, esta é uma série pertinente, porque aborda temas contemporâneos e fá-lo de forma otimista, proporcionando uma resolução positiva aos seus personagens. Quem sabe, servirá de exemplo aos seus espectadores.
Talvez pelas excelentes interpretações, pelas belíssimas cores ou até mesmo pelos duchesses que me criaram água na boca. Seja como for, o que não faltam são razões para ver e rever esta série, que em pouco tempo nos diz tanto.
A série pode ser vista na RTP Play, onde já está disponível na íntegra.
Personagem de destaque:
Como personagem preferida terei de escolher Emília. Não por ser a personagem principal, mas pela sua personalidade, que achei contagiante. A sua ingenuidade e forma de olhar para o mundo são encantadoras e o facto de ter ganho a coragem para se superar a si mesma é para mim uma demonstração da sua força e dedicação.
Melhor episódio:
O segundo episódio, Uma Leveza Inesperada, é provavelmente um dos meus preferidos. A cena em que Emília faz a audição, para mim, tem uma grande potência dramática.
Créditos da imagem: Maria e Mayer